CARTA DE DESPEDIDA -
DESCULPA ESFARRAPADA DE NAMORADO INFIEL!
- Crônica do dia 25-02-2011 -
Meu amor, lhe escrevo essa cartinha pra lhe mandar, "carinhosamente", para o inferno.
Você vai se perguntar, claro, pois não, mas o que é que eu fiz? Você é egoísta, cachorro e outras coisas mais, mas não adianta Isabel, você realmente não me convence...
Eu gostaria que nossos laços não se quebrassem dessa forma, mas você gosta disso, talvez goste de fazer isso, porque gosta de chorar. É, acho que ver seus olhos inchados deve lhe aprazer. Mas não é isso que vem ao caso agora...
Só digo que não quero mais e pronto, saiba que não adianta vir até minha casa, pois já troquei todas as fechaduras e mudei o número do meu telefone, pra que não me moleste mais.
Tudo por causa de uma calcinha de oncinha, com manchas, que você encontrou no bolso do meu paletó! Criatura, tanto pra se importar na vida, e tão pouco lhe faz perder a razão... Francamente...
É por isso que essas coisas ocorrem entre nós dois, vc julga sem procurar saber qual é o fundo bem intencionado que há em minhas ações... você sabe que eu sou um homem de natureza nobre e com atos de plenos de caridade e generosidade com meus próximos. Inclusive, pra quebrar boa parte dos seus argumentos, você sabe que o mandamento que eu mais respeito é aquele:
" Não cobiçarás a mulher do teu próximo ( enquanto o próximo estiver próximo)"
Nem deveria, pois suas acusações perfuraram meu coração como "frias flechas enfadonhas que fizeram farelos da nossa fina fantasia de amor".
Eu posso explicar, o caso foi o seguinte:
Eu fui ao shopping comprar um presente pra você, como vc sabe era dia de pagamento, e eu pensei, "por que não comprar uma jóia para minha amada", e eu, como apaixonado que sou, a ponto de ser idiota, também se não fosse, não seria apaixonado, mas enfim.
E no caminho da joalheria, havia uma loja de roupas íntimas, um sex shop, ia passando direto, quando um som de explosão foi emitido de dentro da loja, aquele fumaceiro, as pessoas correndo, calcinhas e cintas-liga voando, em poucos instantes a loja estava vaizia e pegando fogo. Quase fui atingido na cabeça por um pênis, gigante, em chamas.
Ia correr também, mas algo congelou o movimento das minhas pernas, era uma voz aflita de mulher, gritando, "Socorro, socorro", então pensei, não posso salvar a minha pele às custas da vida de uma donzela em perigo. Então adentrei o ambiente, que estava insuportávelmente quente, mas preferi permanecer de paletó para não me ferir em alguma brasa.
Os gritos vinham do provador onde se encontrava a donzela, ele havia virado com a infeliz dentro, a porta virada para o chão, a passagem do teto obstruída pelo balcão, da loja, e o fundo pelos outros provadores que também caíram... E agora? como salvá-la?
Então eu gritei perguntando, "Você está bem"? E a pobre donzela respondeu, "Sim".
E eu comecei a procurar, procurar, e procurar uma maneira de libertá-la rapidamente antes que o fogo a consumisse, então, foi aí que eu vi a solução, faria uma corda com as roupas íntimas que haviam na loja, de tamanho suficiente para puxar o balcão que se encontrava preso e resgatar a pobre moça.
Assim o fiz, fui nas prateleiras procurei alguma roupa de tamanho maior, mas foi em vão. Não havia nada, restaram as calcinhas, e fui ali, com destreza, amarrando uma a uma, na esperança de realizar isso em tempo hábil para resgatá-la, consegui! Amarrei a corda no balcão e puxei, e puxei, com todas as minhas forças, até que o balcão se afastou espaço suficiente para que ela pudesse escapar.
Então, antes de terminar, a primeira calcinha, que por ventura era essa de oncinha, escapou da corda e ficou na minha mão, mas na hora do desespero eu a coloquei no bolso do paletó e fui ajudar a moça, o que era mais importante, a salvei, a coloquei nos braços para tirá-la do incêndio e fui saindo dentre a fumaça, com a pobre donzela já fraca e quase desmaiada em meus braços, eu, todo chamuscado saindo pelos escombros.
Quando eu saí o povo estava me aplaudindo pelo feito heróico.
Só você é quem não reconhece isso, Isabel, para todas as outras pessoas eu sou um herói, e só para você é que eu não valho nada. Se é assim, permaneça na sua casa que eu não quero mais vê-la, me sinto muito ofendido, e por isso, hoje, vou ser obrigado a ir à praia de Ipióca beber pra me acalmar. Tudo por causa de você. Francamente. Isabel... Adeus!
Graciliano Tolentino
DESCULPA ESFARRAPADA DE NAMORADO INFIEL!
- Crônica do dia 25-02-2011 -
Meu amor, lhe escrevo essa cartinha pra lhe mandar, "carinhosamente", para o inferno.
Você vai se perguntar, claro, pois não, mas o que é que eu fiz? Você é egoísta, cachorro e outras coisas mais, mas não adianta Isabel, você realmente não me convence...
Eu gostaria que nossos laços não se quebrassem dessa forma, mas você gosta disso, talvez goste de fazer isso, porque gosta de chorar. É, acho que ver seus olhos inchados deve lhe aprazer. Mas não é isso que vem ao caso agora...
Só digo que não quero mais e pronto, saiba que não adianta vir até minha casa, pois já troquei todas as fechaduras e mudei o número do meu telefone, pra que não me moleste mais.
Tudo por causa de uma calcinha de oncinha, com manchas, que você encontrou no bolso do meu paletó! Criatura, tanto pra se importar na vida, e tão pouco lhe faz perder a razão... Francamente...
É por isso que essas coisas ocorrem entre nós dois, vc julga sem procurar saber qual é o fundo bem intencionado que há em minhas ações... você sabe que eu sou um homem de natureza nobre e com atos de plenos de caridade e generosidade com meus próximos. Inclusive, pra quebrar boa parte dos seus argumentos, você sabe que o mandamento que eu mais respeito é aquele:
" Não cobiçarás a mulher do teu próximo ( enquanto o próximo estiver próximo)"
Nem deveria, pois suas acusações perfuraram meu coração como "frias flechas enfadonhas que fizeram farelos da nossa fina fantasia de amor".
Eu posso explicar, o caso foi o seguinte:
Eu fui ao shopping comprar um presente pra você, como vc sabe era dia de pagamento, e eu pensei, "por que não comprar uma jóia para minha amada", e eu, como apaixonado que sou, a ponto de ser idiota, também se não fosse, não seria apaixonado, mas enfim.
E no caminho da joalheria, havia uma loja de roupas íntimas, um sex shop, ia passando direto, quando um som de explosão foi emitido de dentro da loja, aquele fumaceiro, as pessoas correndo, calcinhas e cintas-liga voando, em poucos instantes a loja estava vaizia e pegando fogo. Quase fui atingido na cabeça por um pênis, gigante, em chamas.
Ia correr também, mas algo congelou o movimento das minhas pernas, era uma voz aflita de mulher, gritando, "Socorro, socorro", então pensei, não posso salvar a minha pele às custas da vida de uma donzela em perigo. Então adentrei o ambiente, que estava insuportávelmente quente, mas preferi permanecer de paletó para não me ferir em alguma brasa.
Os gritos vinham do provador onde se encontrava a donzela, ele havia virado com a infeliz dentro, a porta virada para o chão, a passagem do teto obstruída pelo balcão, da loja, e o fundo pelos outros provadores que também caíram... E agora? como salvá-la?
Então eu gritei perguntando, "Você está bem"? E a pobre donzela respondeu, "Sim".
E eu comecei a procurar, procurar, e procurar uma maneira de libertá-la rapidamente antes que o fogo a consumisse, então, foi aí que eu vi a solução, faria uma corda com as roupas íntimas que haviam na loja, de tamanho suficiente para puxar o balcão que se encontrava preso e resgatar a pobre moça.
Assim o fiz, fui nas prateleiras procurei alguma roupa de tamanho maior, mas foi em vão. Não havia nada, restaram as calcinhas, e fui ali, com destreza, amarrando uma a uma, na esperança de realizar isso em tempo hábil para resgatá-la, consegui! Amarrei a corda no balcão e puxei, e puxei, com todas as minhas forças, até que o balcão se afastou espaço suficiente para que ela pudesse escapar.
Então, antes de terminar, a primeira calcinha, que por ventura era essa de oncinha, escapou da corda e ficou na minha mão, mas na hora do desespero eu a coloquei no bolso do paletó e fui ajudar a moça, o que era mais importante, a salvei, a coloquei nos braços para tirá-la do incêndio e fui saindo dentre a fumaça, com a pobre donzela já fraca e quase desmaiada em meus braços, eu, todo chamuscado saindo pelos escombros.
Quando eu saí o povo estava me aplaudindo pelo feito heróico.
Só você é quem não reconhece isso, Isabel, para todas as outras pessoas eu sou um herói, e só para você é que eu não valho nada. Se é assim, permaneça na sua casa que eu não quero mais vê-la, me sinto muito ofendido, e por isso, hoje, vou ser obrigado a ir à praia de Ipióca beber pra me acalmar. Tudo por causa de você. Francamente. Isabel... Adeus!
Graciliano Tolentino