Melancolia
Ainda é cedo, mas já estou acordada. Posso sentir a respiração das plantas que estão ao meu lado, a água que escorre delas não são lágrimas, mas talvez chorem. Penso em comer alguma coisa, mas nada me convém, a vida passa por mim serenamente e em algumas vezes eu fico parada, perdida no tempo, sozinha em casa, presa no sótão. Uma senhora me para na rua e me dá um panfleto, onde se lê: “Aproveite bem o tempo”. Estou tentando fazer isso, mas num é uma tarefa fácil.
Queria sair, não posso. Queria gritar, me reclamam, e se eu rir muito, dirão que sou louca. Queria ouvir alguém, não me consolam. Talvez nem me entendam, me achem estranha, ontem eu dormi feito pedra, como se não houvesse o amanhã, como se eu não precisasse acordar hoje, no meus sonhos eu sou feliz, dormindo eu não lembro dos meus dias lastimáveis, me vejo atordoada, minha cabeça dói e as crianças não param de gritar, fecho os olhos, me projeto num sonho, me sinto num avião, olho para baixo e lá estão meus problemas, tão pequenos, como se fossem formiguinhas, e lá estão as árvores que acordam chorando. De longe são tão insignificantes os meus problemas... Seria tão bom estar longe de tudo, libero melancolia tal como as plantas liberam o gás fundamental a nossa respiração.