O GRITO ALUCINANTE!
Tudo foi muito rápido. De uma casa humilde e contígua à banca de jornal do meu bairro partiu um grito alucinante e intermitente, chamando a atenção dos transeuntes e principalmente que estivesse ali próximo. O jornaleiro e eu interrompemos a nossa conversa sobre assuntos triviais e fomos tentar fazer algo para amenizar aquele sofrimento. Primeiramente, pensando que alguém tivesse sofrido algum tipo de acidente doméstico, como por exemplo, queda, choque elétrico ou até mesmo alguma dor repentina. Um tanto apavorados e cautelosos, paulatinamente fomos adentrando naquele recinto humilde.
Como o jornaleiro em questão era vizinho há bastante tempo daquela família e cônscio que ali havia alguém que, amiúde, precisava de atendimento médico, pensou logo: "vamos precisar de mais alguma s pessoas para ajudar!". E realmente, sabendo da dificuldade que teríamos pela frente, por se tratar da paciente ser uma senhora obesa, portanto, pesando bastante, só nós dois nãos seríamos suficientes para erguê-la e, consequentemente, ajudá-la de alguma maneira.
Não demorou muito, o vizinho prestativo regressou na companhia de mais dois homens que gentilmente, interrompendo a degustação matinal da sua cerveja, vieram prestar socorro a uma pessoa necessitada. Além daquele grito aterrorizante, no jardim daquela casa também havia um cachorro bravo que ameaçava avançar, atacar quem dali se aproximasse. Então ficou aquela situação delicada e sine qua non. Queríamos ajudar, mas um animal feroz nos impedia. E agora? Ficamos olhando um para o outro. Nesse pequeno ínterim, apareceu alguém na janela, simultaneamente, bem na hora em que o grito ensurdecedor cessou.
Mesmo sabendo que estávamos ali para ajudar aquela senhora, no caso, a genitora da jovem que ali apareceu para averiguar o porquê dos latidos do bravo cachorro, simplesmente ela falou:
-A minha mãe, de vez em quando, tem esse tipo de pesadelo!
Dá licença!
Em seguida fechou a janela, ao mesmo tempo que o cachorro parou de latir e o silêncio voltou a reinar naquela rua do meu bairro. A única dúvida que gerou neste imbróglio, entre os candidatos a socorristas, foi quando houver outra situação similiar a essa! Mas, pensando bem, mesmo que for outro susto igual a este, vale a pena tentar. Afinal, nunca sabemos o que poderá nos acontecer no dia de amanhã.
João Bosco de Andrade Araújo