Crédula

- Donde tira essa força?

- Nasci crédula Dr.

- É temente a Deus?

- Não, não temo a Deus. Conheço céu e inferno e só se teme o desconhecido. Quanto à

morte, conheço bem. Já perdi filho, irmão, marido, pai e mãe. Sei que um dia serei eu

e me conformo.

- Não crês num paraíso?

- Não, Dr. creio na vida. Vê o mundo? O mundo é feito de pessoas que acreditam. Quem se daria o trabalho de construir prédios, tecnologia, fazer descobertas, disciplinar comportamentos e escrever livros, senão pessoas crédulas? O mundo não é feito por quem bota defeito em tudo. Ele é construído por aqueles que se dispõem a fazer algo, ainda que pouco. Heróis são raros e seus grandes feitos dependem do sacrifício de muitos. Que seria de Lula, senão os militantes do PT? Que seria de José de Alencar se não fossem seus funcionários? Quantos não ganham pouco e fazem muito para que alguns levem a fama? Ou ainda que façam pouco, contribuem para a estabilidade do muito de outros? Só vive quem acredita no amanhã, no ano que vem, no filho, na nação, em Deus ou em tudo misturado.

- É otimista?

- Já lhe disse, sou crédula.

- Mas os otimistas não são crédulos?

- Até são, mas exageram um pouco. Excesso de otimismo às vezes implica não saber a medida das coisas. Achar que é possível fazer mais do que efetivamente se pode fazer. Creio que eu, você e o outro possam fazer algo, algo no que acreditam, de forma planejada, no tempo certo e de acordo com as ferramentas disponíveis no momento. Mas isso não quer dizer, que amanhã outras não possam ser compradas, construídas, reformuladas e até surjam de forma inesperada e, assim, mais coisas possam ser feitas no mesmo prazo e com mais eficiência.

- É uma crédula realista!

- Que assim seja!

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 23/02/2011
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