A fome social



Somos humanos, uma espécie animal em que o acaso da variação genética, por erros de cópias, propiciou uma evolução em direção a um estado de autoconsciência e de inteligência global bem acima da média animal. A maioria absoluta dos animais sequer possui algum sentido de autoconhecimento (já possuímos comprovações de que alguns raros animais como os elefantes, alguns símios, e o próprio golfinho possuem algum autoconhecimento, mas nada que se compare ao nicho ocupado por nós humanos)  e a inteligência deles é o que eu chamo de inteligência prática para a sobrevivência, alguns inclusive tem apurado processamento mental mas sempre voltado apenas para a sua necessidade de sobreviver, uma inteligência prática, em que alguns de forma depreciativa chamam com desdém de apenas instintos.  
 
No fundo somos animais, humanos apenas quando entendemos e praticamos nossa humanidade. Como tal temos necessidades:
·         Respirar é a mais premente das necessidades, aquela que se não atendida, nosso fim é questão de minutos.
·         Repor água talvez seja a segunda mais importante das necessidades.
·         Fazer nossas necessidades fisiológicas é uma necessidade também premente.
·         Repor energia e elementos bioquímicos, por isto necessitamos nos alimentar.
Assim, a carência alimentar atua, ao meu modo de ver, como a quarta maior de nossas necessidades como animais. Sua carência possui impactos sobre uma vasta gama de capacidades humanas, indo em seu extremo desde a morte por inanição, e passando por inúmeros desvios de saúde física e mental.
 
Deficiências alimentares atuam inclusive na personalidade e na forma da pessoa humana agir.
 
Milhões de irmãos padecem desta carência e a maioria de nós se esconde por detrás das máximas de que nada podemos fazer ou de que não é nossa culpa, ou uma variante desta, qual seja a de que é obrigação do estado suprir esta necessidade.
 
Caramba! Em um estado democrático o estado somos nós, sempre que o estado erra, somos nós que erramos, sempre que o estado se omite, somos nós que nos omitimos e sempre que o estado beneficia a alguns em detrimento da maioria, somos nós que estamos punindo esta maioria de viventes que são relegadas.
 
Todos os recursos são finitos, cabe a nós garantir que estes recursos e serviços sejam justamente repartidos. Se alguém não faz por onde merecer, se este alguém denigre a humanidade, e se já foi dado suporte para que esta pessoa mude seu comportamento e ele se nega a mudar, sem dó nem piedade, que seja este removido da convivência coletiva, permitindo que todos os demais possam, com trabalho e participação, dividirem os recursos e os serviços.
 
É mais ou menos evidente que sou socialista, mas não sou radical e muito menos dogmático, defendo por mais absurdo que possa parecer a primeira vista, um socialismo de mercado, onde não existam os ganhos financeiros, onde dentro de cada empresa a diferença de ganhos dos níveis menores para os níveis superiores seja pequena, onde o funcionário que produz os bens ou os serviços, chão de fabrica ou comercio, sejam mais bem pagos que os administrativos, posto que são os responsáveis diretos pela produção da riqueza que movimenta um pais. Defendo um socialismo de mercado onde este mesmo mercado direcione os mais produtivos e mais eficazes, forçando a todos os empregados a buscar sempre a produção sem abrir mão da qualidade, garantindo assim concorrência tecnológica e propiciando melhores ganhos globais. Desta forma o próprio grupo filtraria os improdutivos. Nesta visão as empresas não necessitariam ser do estado (poderiam até sê-lo em casos de grande investimento), mas agiriam como grandes cooperativas, onde todos têm suas obrigações e seus direitos, e o que é melhor interesses, em que a sua empresa ou comércio caminhe positivamente.
 
É claro que neste ambiente, o estado deve ser forte, garantindo o cumprimento das leis, provendo investimento para melhoria da qualidade e para treinamento, e planejando diretrizes de médio e longo prazo.
 
Aos capitalistas, digo apenas que me envergonho do liberalismo econômico, do capital liberal e do poder financeiro sobre a produção. Um capitalismo onde os funcionários sejam parte digna da produção, e onde sejam tratados como seres humanos, também é aceito por mim.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 23/02/2011
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