A Todo Tipo de Homem Solitário E de Bom Coração Como Eu.

A tarde passou e a chuva estragou os planos que eu não fiz. A chuva me dá vontade de correr, mas quando a chuva encerra meu êxtase se vai com ela. A chuva cessou e as vontades extasiadas também. Logo ia anoitecer e eu bem o sabia. Foi quando sentei numa cadeira de palha, no fundo do quintal: cigarro aceso, o céu cinza como jamais se viu, apenas uma ameaça a todo tipo de homem solitário e de bom coração como eu.

Sãos e salvos do cinza, os vizinhos pareciam já ter adormecido; a sensação de estar sendo observado não. Há explicação. Alguém sempre se ocupa de nos vigiar: enquanto dormimos, comemos, fazemos amor, damos comida aos nossos cães, ou, mesmo quando nos sentamos depois da chuva, no fundo do quintal, debaixo de um céu que nos magoa por saber o que pensamos.

Ao ar fresco, confesso que de certa forma, a solidão diminiu. Tive gratidão por aquele momento, que bem poderia ser o último. Do céu não podemos nos esconder, esteja ele configurado numa tempestade conspiratória ou no céu azul e no sol que se guardam em vigília de nós todos.

Mas foi só quando arremessei o cigarro no gramado e levantei da cadeira que me ocorreu uma sentença de dar náuseas: céu algum pediu desculpas por apagar mais uma das poucas tardes que terei.

R A Ribeiro
Enviado por R A Ribeiro em 23/02/2011
Reeditado em 12/09/2013
Código do texto: T2810609
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