(Des) Evolução
Em meados de 2020 um ser evoluído passeava pelo que um dia fora a metrópole de São Paulo, os únicos vestígios que via era algo que lembrava uma civilização primitiva devastada, provavelmente pela guerra de 2010, que se deu em plena ditadura política. A mídia que reportou que as causas da guerra com os EUA foram os incômodos protestos ambientalistas que rejeitavam a ‘genial idéia’ de transformar a Amazônia na ‘fazenda do mundo’, com direito a soja, café, cana-de-açúcar, bovinos e galináceas; entretanto fontes menos lícitas (em período ditatorial) relatavam (quando vivas) que o real motivo foi que nosso amado-justo-honesto e louvável ditador não queria dividir lucros, monopólio! – e disse um sonoro “Fuck you and relax!’ quando o ilustre-amado-simpático e honesto presidente norte-americano perguntou ‘o que o mundo comeria?’; seguindo com as pérolas sem traduções, (sabemos o nível de conhecimento do nosso oper... digo, ditador): “O mundo não é redondo? Que faça dieta! Mas o companheiro não se preocupe, faça como seu antecessor, coma a secretária!”
E o Brasil, que já vinha quase dez anos de guerra civil (sob tapetes), ganhou mais dez de guerra mundial. Não sobrou quase nada, quase nada da bela paisagem com cores já desbotadas que Simão leva na memória, o país ficou selvagem, luta por sobrevivência (brasileiro sabe bem como é isso), luta por comida. A vida sobreviveu, mas a tecnologia não.
A paisagem parecia ter regredido uns duzentos anos (bem menos arbórea, diga-se), era silenciosa e tranqüila como Simão sempre sonhara... E Simão virou líder, sabia sobreviver ali, sabia ser feliz ali, sabia vencer o medo. Começou a ensinar aos brasileirinhos coisas extintas e sublimes, de grau de complexidade extrema para suas mentes tupiniquins, como amor, respeito, honestidade, gratidão, sinceridade.
Explicou a eles que virtude não é de comer. Explicou que quando respeitamos a natureza ela nos respeita, que cada um vale pelo que é, não pelo que tem. Falou para eles que o filósofo estava errado, que eles existiam ainda que não pensassem, e que não se afobassem porque toda espécie demorava milhares de anos para ganhar o ‘i’, virar irracional, enfim, evoluir!
Enquanto o ‘i’ não vem, têm que salvar o planeta, destruir as metrópoles, as tecnologias, as ‘preciosidades’; tinham que limpar o planeta daquele passado horrível. A única ressalva que Simão fez antes de pegar um belo cacho de bananas e pular no seu galho foi para que poupassem os livros; Simão, como outros seres evoluídos, sabe que “um planeta se constrói com macacos e livros”.
Camila Mossi de Quadros
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