ARRASTANDO CORRENTES .
Não tenho nenhuma dúvida de que em outras vidas fui um escravo, com direito a senzala, tronco para chibatadas e muitas correntes . É daí que vem o verdadeiro pavor que tenho pelas algemas .
Creio que teria um enfarte se algum dia fosse algemado, ainda que por brincadeira . Entretanto, foi uma luta para me livrar das amarras e correntes que a vida me impôs desde cedo.
Tudo bem que ainda tenho algumas mas consigo até ficar mais tranquilo porque a maioria das correntes que arrastava me deixaram marcas profundas com cicatrizes feias, mas que são apenas cicatrizes . O que faço agora é impedir que por descuido ou ignorância possa ser novamente acorrentado
Quando falo das correntes da vida me refiro , aos vícios , mágoas, invejas, rancores, raivas, ciúmes e outras tantas que além de pesar e ferir, atrapalharam e atrasaram minha caminhada até o ponto final da minha existência.
Tenho visto muita gente por aí acorrentada até a raíz dos cabelos, andando e progredindo com grande dificuldade e o pior de tudo é que não se interessam e nem fazem nenhum esforço para se libertarem.
A corrente da vaidade excessiva, desumana , depressiva e completamente insana é das mais pesadas que o ser humano arrasta pelos caminhos, atalhos e encruzilhadas da vida. Tudo bem que uma coisa é ser vaidoso num tom ponderado , equilibrado, consciente , do tipo que massageia levemente o ego , mas a partir do momento em que a senhora vaidade começa a escravizar , na verdade fortes e pesadas correntes estão sendo enroladas nos pescoços dos incautos.
As mágoas então, são poderosas as suas correntes e seus elos são tão fortes que é preciso muita luta, muito empenho, muita serenidade para se livrar delas. É possível que as correntes das mágoas sejam as que causam feridas mais sangrentas , dessas que logo infeccionam e seu veneno se espalha rapidamente pela corrente sanguínea.
E é quase sem perceber que o individuo se transforma num morto vivo, arrastando penosamente sua tenebrosa corrente de mágoas e se ferindo cada vez mais, sangrando cada vez mais, infeccionando cada vez mais seu sangue e a sua vida.
E tem outras, muitas outras que inclusive se disfarçam com adornos de plástico colorido mas que na verdade acabam ferindo tanto e sendo tão sangrentas quanto as correntes de ferro .
Falo por exemplo do ciúme e da inveja. Dificilmente percebemos que os dois estão nos enlaçando, começando a nos sufocar, impedindo que possamos continuar respirando o ar puro da consciência plena, do equilíbrio e da sabedoria.
Ciúme e inveja geralmente gostam de caminhar juntos como se fossem um jovem e simpático casal de enamorados que dá gosto ver passeando de mãos entrelaçadas . Entretanto o que gostam de entrelaçar são nossas vontades próprias e sufocando nossa lucidez acabam nos deixando completamente cegos, verdadeiros zumbis que se arrastam sem rumo.
Não creio que esteja totalmente livre das correntes que me machucaram, incomodaram e travaram meu caminhar. Ainda falta muito para conseguir isso. O que me consola é que começo a entrar numa fase da vida em que vislumbro certas verdades que antes ignorava e algumas delas até criticava e achava muita graça.
Interessante como a Faculdade da Vida é sábia em nos ensinar. Mesmo com o barulho de correntes se arrastando, algumas muito mais pesadas que outras, ainda assim sempre somos bem recebidos nas suas salas de ensinamento e nossos mestres não só nos mostram como é possível ficarmos livres das correntes que habitam o nosso lado mais negativo e amargurado , como também nos indicam onde encontrar as chaves para abrir os cadeados do que nos tortura e fere.
Todas as chaves que sempre poderão abrir os cadeados das correntes que nos libertarão das amarguras, dos vícios , das mágoas, das tristezas e dos pesadelos que são os pensamentos negativos, acrescentando-se aí o ciúme, a inveja, a raiva, o ódio e mais alguns outros estão onde sempre estiveram.....bem no fundo e no melhor lado dos nossos corações.....
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(.....imagens google.....)