QUANTO TEMPO
Lêda Torre
Manhã triste, naquela Igreja um corpo inerte, frio, um pouco desfigurado pela própria face da morte. Saudades eternas todos sentirão com certeza. Era sua mãe. Uma prole bem grande ali relembrava cada um na sua fala particular, cada momento de amor daquela mãezinha que estava partindo para a casa do PAI. Cada momento de carinho, de conselho, de disciplina, de escola, de se alimentar, do seu cuidado que não tinha igual.
Aquele corpo ficara conservado por três dias, pois a maioria dos filhos vieram de longe, da longínqua cidade do Rio de Janeiro, e todos que vieram dependiam de vôo, um dia vieram uns, outro dia chegara outros e assim até no terceiro dia. Todos se arrumaram para levá-la à sua terra onde aquele féretro seguiu para a morada eterna; fora na cidade de Dom Pedro, que seus treze filhos viveram todos , desde crianças, a morada da tia Geminiana. O dia nublado parecia colaborar com a tristeza de sua família. Um dia frio aquele do enterro. O tempo chorava junto, bastava perceber ao redor de todos...aquela face tão alva, e seus belos olhos azuis se fecharam para sempre...
Antes, daquele momento tão duro, o corpo fora velado na Igreja Evangélica da cidade, que um dia fizera parte da sua rotina, onde encontrara DEUS de verdade, quando se converteu um belo dia. Seu filho pastor pregara com palavras lindas e tristes ao mesmo tempo. Momentos vividos por aquela mãe com sua prole enorme, de treze filhos, foram lembrados com muitas saudades.
O silêncio era total. Em cada rosto as lágrimas abundavam...a dor da perda era indescritível... Os doze filhos que vieram do Rio de Janeiro alguns e outros de São Luis, estavam postos, sentados no púlpito, em fileiras de cadeiras para acomodar os treze...o semblante era de muita dor e tristeza, mas todos passados, porém um deles muito me marcou, o mais velho, chorava copiosamente, sem muito movimento, mais cabisbaixo...porém, muito na dele, mais calado do que desesperado, aquela dor grande que sufocava de uma forma, que só Deus e o dito filho, cujo nome prefiro não citar, por questão de respeito a ele mesmo, não me autorizou escrever sobre o que meu coração, desregradamente escreve...e eu sabia que estava sentindo.
A sua esposa sentada em outra cadeira, onde as noras estavam, olhava-o de forma vigilante, porque segundo ela , era de se temer a reação dele depois que tudo aquilo passasse, era um caso de explodir mesmo em choro...ela estava preocupada...mas eu, de longe, não sei se me observavam, sentia meu peito apertar de tal forma, que só Deus também sabia...ele é o motivo de muitas poesias minhas, ele sempre foi o grande amor da minha vida.
Eu estava ali com minha mãe, irmã da tia falecida,e mais outra tia, a tia Maria, cumprindo o dever de família, mas meu coração não poderia deixar de sentir o que ele jamais deixou de sentir: amor e naquele momento tão duro, compaixão. Meu desejo mesmo, era consolá-lo, abraçá-lo,tomá-lo no meu colo, e dizer-lhe o quanto eu nunca o esquecera. O meu coração parecia que ia explodir, mas pedi a DEUS que o controlasse...
Porém, todos que estavam ali, primos, irmãos dele,sobrinhos, etc, conheciam a nossa história, mas a vigilante esposa dele, não desgrudava os olhos de seu objeto de posse, e sabia de mim, também não tirava os olhos de minha pessoa. Entretanto, fez-se minha amiga, conversando comigo o tempo todo, e isto foi até motivo de algumas risadinhas, dos demais primos, pois todos a conheciam muito bem, sabendo que essa amizade de repente, não era normal, com todo respeito pelo momento tão dolorido...e ao mesmo tempo, cômico suas atitudes denunciadoras... todos observavam o amado, o tempo inteiro, muitas vezes queria se esquivar um pouco daquela vigilância, mas a fera estava ali, alerta, de olho vivo....porém, a vida tem dessas coisas, mesmo sendo num momento de dor, há quanto tempo a gente não se via, mas vez e outra, ele me dirigia a palavra , e meu coração pululava, como que sabendo que o dele desejaria dizer-me algo...que situação meu Deus! peço até perdão a Deus, por amar tanto,se for esse o meu maior pecado, quero que o Pai me perdoe por não conseguir dominar meu coração....a vida é assim,cheia de surpresas...
________São Luis, 22 de fevereiro de 2011_______________