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Quando escrevo,gosto de falar de flor,de calor,de chuva e vento.

Mas sou escritora das mais amadoras!Aqui no Recanto dou asas a fantasia,me divirto e faço de conta que escrevo.E,por vezes,me emociono e trilho caminhos abertos por uma espécie especial de escritores,os poetas.

Mas minha poesia é tosca,tola,emocional,sem estilo.Não sou como dois dos meus preferidos poetas,pois não sigo tendências.

Então eu leio Cruz e Souza e Olavo Bilac,fascinada com sua competência poética!

Em Missal-astro frio,Cruz e Souza escreve:

".Fria e muda estarás, talvez, a estas horas, ajoelhada na capela de um Cristo glacial de marfim sagrado — branca, mais glacial e de mais branco marfim do que esse Cristo, com as níveas mãos de cera e face também de cera macerada pelos jejuns e pelos cilícios, dentro de sombrias vestes talares.

E, assim muda e assim fria, perpassarás como a sombra de um vivo afeto ou de um profundo sentimento artístico, ao frouxo clarão de âmbar das lâmpadas lavoradas."..

Pobre homem,grande poeta!

As cores de Cruz e Souza sempre variavam no branco.Leite alvo de dor e morte.Véu de tristezas!Vida sem motivo para colorir.Amor ideal pela poesia,numa época de raras oportunidades literárias para o filho de escravos alforriados ou não, em que diferenças raciais e sociais eram praticamente intransponíveis!Ironicamente era conhecido pelo apelido de Cisne Negro,entre os colegas poetas.Era culto, Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais.

Foi duramente discriminado em vida.Detestava ser do jeito que era,o que não impediu o poeta simbolista de se eternizar em versos tristes,tão carregados de dor.Teve quatro filhos,e todos morreram de tuberculose.A esposa ficou louca depois disto e morreu.Ele ficou tuberculoso também e morreu assim,aos 36 anos de idade.

Do outro lado da minha estima pela poesia,tem o parnasiano Olavo Bilac! Vida bem mais leve que a de Cruz e Souza,náo tão breve(morreu aos 53 anos) quanto as estrelas-cadentes que via passar no céu carioca,as quais amava e com elas conversava:

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto..."

No entanto,foi intenso,ardente em pensamentos,e se as ações deixaram a desejar porque o físico fraco não ajudava muito,a pena sem descanço,traçou ações sociais e políticas de peso,contra preconceitos e injustiças.

Foi membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Em 1907, foi eleito “príncipe dos poetas brasileiros”, pela revista Fon-Fon. Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas brasileiros, é considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos.Olavo defendia o serviço militar obrigatório,exaltou o país,cantou à nossa bandeira (a letra do hino é dele)e multiplicou admiradores,assim como críticos!Sua abolucionista voz alcançou os algozes e influenciou sua geração.

Cruz e Souza.Olavo Bilac.Geniais!Preto e branco.No final,só cores.

Concluo,então,prestando singela homenagem à eles,que um poeta pode ser de qualquer jeito,a sua obra transcende estilos!

Brigeth
Enviado por Brigeth em 22/02/2011
Código do texto: T2807426
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