O mundo jaz no silêncio
O silêncio. Quem o quer? Um par em mudo diálogo? Como se a ausência do som das palavras ou do quase inaudível farfalhar do nada a roçar ouvidos esforçados, solidificasse a certeza do... silêncio.
Absoluta solidão? Não, não há silêncio na solidão. O homem só não é silencioso. Ao contrário, nele fervilha caldos de diálogos inflamados consigo próprio. Só há monólogos onde dois ou mais circundam-se a chacoalhar seus argumentos e interpretações – que Deus tenha piedade de quem os tem – numa acirrada e disfarçada disputa pelo efeito de maior contundência na exposição
Um ente não dialoga; ele “monologa” diante de outros vários e tantos atentos monologantes. Ele apenas dialoga consigo mesmo tentando convencer-se com a precisão de um raro entendimento. Mas vã é a tentativa. Sabendo disso, engana-se a si próprio com a mesma elegância com que interpreta o mesmo engano que para si aprovou, para dar a outrem que o ouve atentamente como se o estivesse entendendo. Um consentido acordo de cavalheiros ocos, a preencherem-se de inócuas tentativas significantes.
Mas, e o sentido? O sentido, contido ficou enquanto internalizado no vasto mundo do imanifesto. A partir da manifestação, deixa de fazer sentido; apenas consente-se para que as delongas não prolongue enfados como em uma sala de espera a espera de se fazer entender.
Diante desse quadro – o qual não decoraria nenhum interior – espatulado com vigorosas pressões na realidade, mostra-se o quanto é quase impossível a socialização igualitária. Por único motivo: a individualidade. O homus-individualis, nada divide. A sociedade não é composta de “dividuais”. É decomposta por individuais.
Nunca será possível a longeva sociedade humana igualitária mas sim a circunscrita e desigual “saciedade” humana.
No silêncio de nossas alcovas individuais planejamos um “mundo melhor”. No máximo “dias melhores” com prazo de validade é o que se consegue. Resta-nos o consolo da engenharia “sensitiva” a construir pontes de acesso ao distante próximo, como uma forma de substituição à individualidade demarcada em nosso DNA.
No ensurdecedor barulho dos monólogos, acenamos com a esperança de que em um dado momento possamos nos fazer entender assim como nos entendemos a nós mesmos antes que interrompidos pela morte, possamos soçobrar em um eco perdido.