A CABELEIREIRA
Tudo acontecia numa manhã de sábado véspera de Festa de Santos Reis. O salão de Matilde estava cheio. Logo de manhãzinha chega Glória, moça com corpo delgado, seios fartos e uma vasta cabeleira cuidada a muito creme e ressecada pelo sol. A cabeleireira olha para Glória e não acredita no que vê. Um longo cabelo afaropado que não tinha creme que desse jeito, mas sabia que naquele dia não era o dia ideal pra que alguém com aquele tipo de cabelo aparecesse, já que o salão estava repleto de gente esperando por sua vez.
Glória então se dirige a Matilde e diz que pretende fazer um alisamento.
__Me disseram que esse salão é o melhor da cidade. Vim comprovar e se for bom mesmo deixará meu cabelo liso e brilhante.
__Minha querida gostaria muito de tratar de seu cabelo, mas hoje não vai dar, porque é um dia de festa e tem muita gente aguardando a vez e esse tipo de tratamento leva horas pra terminar.
__ Não tem problema eu espero e já vou adiantando o processo. Enquanto você cuida das demais pessoas eu vou passando o creme que comprei no supermercado.
Matilde farta da conversa da mulher não insiste em demovê-la de sua idéia e continua a trabalhar.
Glória tira seu creme da bolsa e começa ela mesma a cuidar de seu cabelo. Vai ao lavatório, molha o cabelo, lava com xampu e logo após começa a passar o tal creme no cabelo. Matilde ocupada nem teve tempo de olhar o que a cliente estava fazendo, continuava a cuidar dos cabelos das outras clientes que estavam na fila de espera.
E lá estava Glória passando aquele creme e esticando com um pente. Mal sabia ela que havia comprado o creme errado e comprara pasta para lavar azulejos que continha muita química inadequada para cabelos. Glória não sabia ler, apenas comprava os produtos pela semelhança dos produtos.
Passavam-se as horas e lá estava Glória passando aquele creme. Quando o salão estava esvaziando finalmente Matilde pôde lhe dá atenção. Mas já era tarde. O cabelo de Glória estava duro e repuxado, não tinha creme que desse jeito.
__Mas o que é isso que você fez? Deixa eu ver esse creme! Você é louca passou pasta de lavar azulejos.
__Como? Eu não acredito. Da última vez que comprei a embalagem era assim azulzinha.
__Você compra os produtos pela cor da embalagem?
__É que não sei ler e agora o que faço?
__Meu Deus seu cabelo está duro, vamos tentar lavar.
E lá ia Matilde tentar reverter o que Glória havia feito. Lavava, colocava creme e mais creme e nada do cabelo amolecer. Dava banho de creme. Colocava touca térmica e nada pois o cabelo continuava duro.
Matilde então dá a sentença final.
__Seu cabelo não tem jeito. Só passando a noite de molho no creme e aí sim amanhã de manha talvez eu possa fazer algo.
Glória vai pra casa e tenta molhar o cabelo e colocar creme. Descuidada como sempre ao invés de pegar o óleo pra cabelo pega enganada novamente pelo frasco o vidro de álcool e despeja no cabelo.
Vai acender o fogo do fogão pra esquentar o jantar e seu cabelo se esvai em chama, corre e atira a cabeça na tina d’água. Olha no espelho e desmaia.