Passatempos e fugas

O cadilac preto que servia ao senhor Gustavo estacionou na poça de água. Imediatamente ao saltar do carro a senhora do senhor Gustavo inundou os sapatos. O senhor Gustavo ficou desesperado e correu para lhe oferecer uma opção. Pensou em despir o próprio sapato, mas compreendeu a oferta como absurda, tinha pés enormes e ela pés de nipônica.

Mediante compromisso inadiável a senhora de Gustavo permanecia enlameada até o pescoço. Mesmo assim procurou subir com calma as escadas do fino Hotel. Seus passos destacando-se numa trilha de barro sobre o tapete vermelho.

O senhor Gustavo ao fechar a porta debruçou-se demais enquanto desligava o Sinatra que tocava no rádio adaptado ao cadilac. Novamente de repente surgiu o caminhão de frangos levantando uma onda gigantesca que encharcou os fundilhos do senhor Gustavo. Por estranha razão ou vazão a água era púrpura. De fundilhos vermelhos o senhor Gustavo começou a se colar na fila que ficava no saguão do Hotel também em festa. Quando duas almas se perdem e se amam é como se morassem em hotéis diferentes de uma hora para outra, compreendeu, procurando a esposa.

Todos compareceram vestidos a rigor e a maioria estava de branco. Em plena concierge, comandada por um negro africano que falava dez idiomas, além de alguns dialetos, abaixou-se colando a bunda (borrada como carimbo) na frente da senhora Edviges. Dona Edviges era tão grande de frente quando na altura dos cabelos. Ficou manchada bem na frente do vestido branco. Chegou a perder o ar. Sem ar, mostrou ao marido o ocorrido apontando o dedo, já o senhor Gustavo entrava no último andar da escadaria. Chegou a tempo de ver um homem sentar-se distraidamente no colo de sua senhora que se encontrava sentada e enlameada até o pescoço. As crianças se dividiram: algumas começaram a rir, outras veneraram o velho cadilac rezando.

Como tudo demorasse mais do que a noção de nossa paciência é capaz de abrigar começaram a dançar. Quando o pai da noiva chegou para o casório a festa já havia terminado. O pai protestou com fúria e deselegância ao responsável pela desordem no salão. Ele havia saído para comprar roupas íntimas para alguns hóspedes que acabaram de chegar de uma praia de nudismo no caribe.

Deu tempo da noiva se apaixonar pela lua e o noivo pela rua.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 21/02/2011
Reeditado em 22/02/2011
Código do texto: T2806169
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