O Preço da Adrenalina.
É impressionante como as pessoas se expõem, pondo em perigo a própria vida e de seus semelhantes, apenas pelo prazer de sentir o frio na barriga em decorrência da dose de adrenalina que uma aventura pode causar.
Neste final de semana, nós aqui de Campo Grande-MS, perdemos a companhia de uma pessoa de nossa estima, em decorrência de um acidente com motocicleta. A notícia veio com o impacto da tragédia. Esse companheiro do Poder Judiciário pertencia a um grupo de motociclista chamado “Fura 300”. Ele era comunicativo, dinâmico, empresário de sucesso, mas, teve sua passagem pela estrutura funcional do Judiciário, marcando sua presença na atuação de nosso sindicato. Assim, podemos considerar que era uma pessoa esclarecida e ciente dos perigos que corria ao participar daquele grupo de aventureiros que não tem medo dos riscos que correm nas estradas.
Depois da fatalidade é que fomos verificar a origem desse grupo. Trata-se de pessoas que gostam da velocidade. O denominado ‘calouro’ para ingressar no contexto daquela organização, em primeiro lugar, precisa ter uma motocicleta potente. Em segundo lugar, deve demonstrar seu despojamento em termos de alcançar determinada marca que está embutida no nome do grupo (“Fura 300”). Isso significa dizer que o aspirante deve comprovar que ultrapassou a marca de 300 quilômetros por hora.
Voltando ao acidente. Nosso amigo se deslocava com seu grupo de motoqueiros para um encontro no interior do Paraná-PR. Quando estava em território do Município de Guaíra-PR, um dos membros teve avaria na sua motocicleta e teve de parar. O grupo de 12 se separou, ficando seis pra trás e seis seguiram viagem. A metade do grupo estava com pressa e não quis esperar o colega que estava com problemas mecânicos. Em certo trecho, todos em alta velocidade, encontraram na sua trajetória um caminhão basculante que tentava ultrapassar outro veículo. O grupo foi pego de frente. O primeiro a ser atingido foi nosso amigo que com o impacto foi vítima de explosão, partindo sua moto em três pedaços. Seu corpo ficou mutilado. Os estilhaços atingiram outro campo grandense que viajava um pouco atrás. Morreram os dois. Os outros quatros, como vinham mais atrás, só sofreram arranhões em decorrência da queda das motos e porque tiveram tempo de evitar uma tragédia ainda maior.
Pelo estrago nos veículos e pela natureza do acidente, não há dúvida de que a velocidade era extrema. A pergunta que fica é aquela natural para as pessoas que temem a morte: Será que esse grupo de motoqueiros não irá repensar nas suas proezas e nas suas aventuras sobre duas rodas? Muitos estão dizendo que eles não vão desistir do propósito de manter essa atividade de lazer, até porque já é 06 o número de perdas, desde a montagem dessa associação Kamikaze e, por isso, tal desfalque é natural dentro da proposta de aceitar os riscos.
Esse episódio me fez lembrar outro colega que em véspera do Natal, brincava de ‘roleta russa’, com outro de mesma índole aventureira. Resultado: fez com que seus familiares passassem o Natal numa funerária. Ambos deixaram crianças pequenas para serem criadas pela mãe.
O que leva uma pessoa a se expor a tanto risco? Quando somos jovens é até natural, em face da falta de juízo, fazermos alguma acrobacia, como se jogar de cabeça num lago profundo, há alguns metros de distância, com o fim de demonstrar coragem para os amigos e para as ‘gatinhas’ de plantão. Entretanto, depois de certa idade, passamos a zelar mais pela nossa integridade física, muitas vezes, não porque deixamos de ser ousados, mas, porque a nossa vida é apenas uma corrente que não pode se romper, porque essa ruptura poderá jogar no abismo os outros que se dependuram na nossa retaguarda.
Assim, tais episódios servem de reflexão para aqueles que gostam de correr riscos. Mais vale sentar sobre a sombra de uma árvore, ou andar bem devagar, chegando bem depois e talvez morrer velinho, do que morrer cedo e deixar tanta dor.