ESCREVER PARA QUÊ ?
Por vezes interrogo-me: escrever para quê e para quem? Não está tudo dito? Limito-me, em norma, a repetir o que já foi escrito e pensado décadas atrás.
Sem duvida de erro, poderia asseverar: todo o escritor é plagiador, já que usa a experiência, o saber, as ideias dos que o antecederam; e não é desdouro.
Moliére não imitou “O Vaso de Oiro” de Plauto, ao escrever “ O Avarento”?; e o Rigoleto de Verdi não foi baseado no “ Le Roi s’amuse de Vitor Hugo?; o próprio Eça não foi acusado de copiar Júlio Verne, Zola e Flaubert?
Disse: não é desdouro, e penso que disse bem, desde que não se copie formalmente; porque o escritor ou poeta, não o é espontaneamente, mas fruto de leituras e influência de um ou vários consagrados.
Se há diferenças, é no jeito como observam os acontecimentos, e os vê coados pela sensibilidade, modo de pensar e formação cívica e moral.
Tal como o escultor, que do bloco de mármore, arranca a estatueta, de harmonia com o gosto e sensibilidade, o escritor, com a pena, versa temas conhecidos, transmitindo-lhe seu modo de pensar, no estilo ou modo de dizer próprio.
Também o articulista escreve, porque sente precisão de comunicar o que pensa; e escreve para reduzido número de leitores, que possuem igual sensibilidade e idêntico modo de estar na vida.
Costa Barreto, conhecidíssimo jornalista do extinto matutino “ O Comércio do Porto”, afirmava, que os periódicos não têm leitores, mas sim os colaboradores; e acrescentava: compra-se o jornal para ler A ou B, e muda-se de gazeta, se o cronista passa a escrever a coluna noutro periódico.
Dizem que se deve ler muito; eu direi o contrário: leia-se o que merece ser lido.
E o que merece ser lido?
Além das obras fundamentais, escolha-se, na floresta dos livros, os que tratam assuntos, consoante o gosto de cada um.
O que interessa para A, pode não ser para B.
Deve-se ler, igualmente, jornais e revistas, para confrontar o nosso parecer com o dos cronistas, e adquirir conhecimentos sobre as correntes de opiniões em voga.
Sertillanges recomenda não ser devorador de livros, mas que se seja criterioso na escolha, e buscar o melhor sobre a matéria a estudar; porque os livros repetem-se, e na maioria não passam de cópias, apenas revestem assuntos sob o ponto de vista do autor, exposto com mais ou menos beleza literária.
Em suma: leia-se obras que sirvam para melhorar a nossa formação, mormente as escritas em boa e vernácula linguagem; e o jornal que verse temas variados, e mostre o mundo sob ponte de vista de comentaristas de boa e sólida formação moral.