Cauby Peixoto, a voz

     Fã declarado dele, vi Cauby Peixoto, pessoalmente, somente uma vez. E olhe que, nesse tempo, ele já cantava e encantava o Brasil amante da boa música. 
     Deambulava eu, à noitinha, pela Visconde de Pyrajá, em Ipanema, e o encontrei, sozinho, espiando a vitrine de uma famosa loja de moda masculina.
     Cumprimentei-o com o respeito que merecem os grandes ídolos. E ele respondeu meu "Boa noite!" com um discreto sorriso.
     Isso foi na década de 1960. Cauby devia ter o quê? Quarenta e poucos anos, tomando por base o ano em que ele nasceu, ou seja, 1931. Para ser mais preciso, no dia 14 de fevereiro de 1931. 
     Ele estava no esplendor de sua carreira artística; um autêntico e consagrado cantor do povo. 
     O Brasil inteiro cantava Conceição, Tarde friaBlue Gardênia, Nono Mandamento e mais de uma dezena de sucessos, que arrasavam corações e alimentavam sonhos... Era a época de ouro do rádio e de seus movimentados  programas de auditório.

     Nos meus tempos de Fortaleza, eu rapazinho, não perdia um. Frequentava, com assiduidade, por exemplo, os bons programas da Ceará Rádio Clube e da Rádio Iracema. 
     Muito bem. Venho assistindo as TVs e o rádio patrocinando uma exagerada homenagem a um conhecido ídolo do futebol, podre de rico - leia o que sobre sua fortuna saiu na Veja desta semana -,  e que acaba de abandonar os gramados; de pendurar as chuteiras. Por que fez isso, circulam versões as mais diversas. 
      Lágrimas rolaram, com a despedida do craque; e não só dos olhos das "marias chuteiras", diga-se de passagem. 
     Nada contra. Não repreendo e muito menos condeno a mídia quando presta homenagens aos jogadores que brilharam dentro das quatro linhas  (como costumam dizer os locutores e comentaristas esportivos) e, de repente, se despedem definitivamente dos estádios, deixando saudades. 
     Afinal, no Brasil, os campos de futebol são os circos que dão aos que não têm pão o direito de, livremente, soltarem um grito de alegria!
     Mas eu qeueria dizer, que as grandes redes de televisão e as emissoras de rádio não deram o devido destaque ao Cauby Peixoto que acaba de completar 80 anos, sem que um só deslize tenha manchado sua biografia, no palco e fora dele. 
     Oh! Isto não está certo!
     Modestamente, aqui estou, permitam-me, para saudar o aniversariante ilustre, antes que o cantor Cauby Peixoto se recolha, compulsoriamente, ao Retiro dos artistas, e lá morra totalmente esquecido.
     Queria dizer ainda, que a simples publicação do seu necrológio não vai reparar a injustiça, colocando-o, ainda em vida, no rol dos artistas esquecidos. 
     Presto-lhe, aqui, minha homenagem; e como fiz com outros cantores que já se foram - Gonzagão, Alcides Gerardi, Orlando Silva, Galhardo, Emilinha, Linda e Dircinha, Núbia Lafayete, só para citar alguns dos velhos tempos - assobiando Nono Mandamento, uma de suas músicas cantadas, várias vezes, nas minhas noites de serestas, pelas ruas da pacata Fortaleza, idos de 1950.
 
     Recorde a letra: "Senhor, aqui estou eu de joelhos/ trazendo os olhos vermelhos/ de chorar porque pequei./Senhor, por um erro de momento,/ não cumpri o mandamento,/ o nono da Vossa lei.
     Senhor, eu gostava tanto dela,/ mas não sabia que ela,/ a um outro pertencia./ Perdão, por esse amor que foi cego;/ por esta cruz que carrego,/ dia e noite, noite e dia.
     Senhor, dai-me a vossa penitência;/ quase sempre a inconsciência / traz o remorso depois. / Mandai para este caso comum,/ conformação para um,/ felicidade pra dois." 

     Em tempo: dei à minha crônica um título que lembra o Sinatra, chamado pelas multidões de The voice - A voz.
     Nada de mais. Cauby Peixoto, no auge de sua carreira, foi considerado o Frank Sinatra brasileiro.
     Palmas, portanto, para ele, Brasil!                  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 21/02/2011
Reeditado em 03/03/2015
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