Celular,Pc e ...
Considerações sobre a comunicação(I)
Imagens:coleção de selos chineses, enviados por L.Tsai
Comportamento Humano I
Sinais dos Tempos Hodiernos.
“Nenhum Homem é uma Ilha/qualquer homem é uma parte do todo(...)”
(John Dohne)
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte,02/11/2006
Definitivamente,talvez, os ermitões não teriam lugar no Mundo, agora. Estamos para vivermos em não solidão.Mesmo nos claustros,há o momento de, mesmo no silêncio, compartilhar-se , o banco de capela, o chão,o ar, em última instância.
Não há lugar para vivermos ilhados.A palavra ilha.que definiríamos nos livros escolares como “uma porção de terra cercada de água por todos os lados”,mas que alguns dicionários complementam:”terra menos extensa que o continente_...,o que revela:estar,ser a menor.”Aquilo que por estar isolado lembra uma ilha”.Ilhado,sinônimo de isolado.Quem assistiu “O Náufrago”, versão cinematográfica moderna de Robson Crusoé, vivida visceralmente por Tom Hanks um executivo da FedEx que consegue sobreviver em uma ilha no Pacífico, após um acidente aéreo,angustiou-se.Mais que qualquer dificuldade vivida pelo protagonista,o não ter com quem falar ,estar ou ser,a grande angústia do drama.O que mais tememos.
Não ter com quem comunicar-se é a verdadeira solidão.
O mundo,hoje, oferece dois recursos tecnológicos impressionantes:o celular( no Brasil, extremamente popularizado, para todas as classes sociais, do tijolinho aos quase laptops, que registram fotografias digitais )e o computador doméstico ou de trabalho.
Numa fila de ônibus, de banco,ninguém se entendia, fica ansioso:saca o aparelhinho e liga para a babá do filho, para a pessoa amada, para o desafeto-e “manda ver”.Não se liga muito mais para a privacidade.Todo mundo ouve todo mundo falar desde a transa de véspera ao golpe político.Aprende-se a escutar e deduzir nas entrelinhas.Seqüestrados podem avisar a polícia, aos familiares,se esquecerem de lhes tirar o pequenino adorado.Conversa-se comendo,deitado,tomando banho, dirigindo o carro-por mais que seja proibido.N o “viva voz”,todos os caronas acompanham as ações despencarem ou subendo, o xingamento, a notícia do prêmio e,constrangidos, constatam o abandono, a falta de grana, o diagnóstico de Gravidez, Câncer e ou AIDS.Até num banheiro de hotel de luxo, o cidadão, ao operacionalizar suas necessidades fisiológicas,poderá estar ouvindo no mictório ao lado, alguém se derreter com a amada ou planajar um roubo.
Novas regras de boa-educação:desliga-se o cel nas conferências, no cinema, no teatro, no recital, no hospital.Mas há os tão viciados que fingem esquecer, só para pedir ,quando o seu aparelhinho/ao chama,desculpas, fingindo-se constrangidos, e os que adoram , porque ,fazendo cara de preocupado, podem ir lá fora atender,e aproveitar para fumar seu adorado cigarro(avisariam à secretária: “D.Bia, ligue-me exatamente a cada uma hora,sim?Mesmo que eu não possa responder, é só para controlar o tempo...et blá-blá-blá...”.Nesses momentos é comum – já vi muito do alto, da mesa de palco onde estou ministrando alguma palestra_,assim que alguém pede licença e vai lá fora, acontecer um frisson de aflição, saudade,associação de idéias, lembranças,e , qual uma onda marinha, mãos se agitam, bolsas e bolsos são apalpados e várias pessoas retirarem seu celzinho(“ceuzinho” particular ou inferninho, limbo,purgatório sacrossanto) e consultar mensagens,torpedinhos,horas, quem ligou e ainda ,não raro também ,despistadamente, com o polegar ativo, mandar seus próprios recados.
Bexigas cheias começam a pedir socorro, barrigas vazias começam a ansiar pelo coffee-brake...saudades acordam do cochilo,preocupações batema aldrava na porta cerrada...
Uma das regras de etiqueta é não escrever ao celular enquanto alguém lhe fala, mas resistir, quem há de?
Já ouvi, no consultório,muitas mulheres me dizerem que graças ao celular, podem rastrear maridos, amantes, filhos adolescentes, funcionários.Sim, ele tocará a qualquer momento...mas poderá ser atendido do vaso sanitário, à cama de motel, ao carro durante uma transa ...
Quanto ao PC, esse aproximou todas as pessoas que querem COM/partILHAR:estar ilhado, sim , mas COM alguém que lhe responda ao desejo, ao sonho, à esperança.Uma senhora vetusta poderá enviar versos eróticos e, mesmo que não minta sobre a idade, dar a impressão de ser uma fogosa jovem.Afinal, a alma não envelhece e em que pese passar pelo espelho e assustar-se com a nova silhueta,o rosto plissado, a dupla papada, a alma tudo pode.Basta não ligar a webcam...Ainda mais, ao feitio preconizado por Fernando Pessoa,se a alma não for pequena, pode-se voar....Dedos trêmulos escrevem os palavrões jamais ditos,os “por favor” nunca lembrados, as declarações apaixonadas mais ousadas..Nova forma de traição aos companheiros:na calada da noite, nas manhãs vazias,as “Belles- de- jour”,os Cyrano de Begerac ,sejam ou tenham sido Catherines Deneuves ou Belmondos, podem arranjar novas e divertidas e/ ou sensuais companhias.
O imaginário em nossas cabeças é,ilimitável.Pode-se fingir morar em um País e estar bem no andar acima,na mesa de trabalho ao lado, ser um bom vivant e estar morrendo numa cama de hospital... qualquer cor de olhos, qualquer sexo.
Claro, há uma ética subentendida na Internet.Muitos, muitos, muitos, são absolutamente sinceros.Desempregados ou milionários,usando o próprio computador ou o do trabalho na hora do almoço,abrem a alma, fazem uma catarse necessária quando,na vida não virtual,mal abrem a boca,recusam psicoterapias, são discretos...
Muitos namoram, chegam a casar-se, encontram-se em alegres “Orkontros”,apóiam um doente, mandam fotos legítimas.
Tudo isso, porém,para combater qualquer sensação de ser ilha humana,muitas vezes cercadas por familiares ou colegas de trabalho.Quantos não atravessam o mar, para conhecerem o personagem do sonho,a criatura que lhes preenche a alma?Melhor que ser artista, então,é ser protagonista da própria história.Tórridos romances, grandes amizades,grupos de apoio, amigos para sempre...
Escrevo isso, depois de hoje, Dia de Finados,não findos em meu coração,acariciar a echarpe de minha mãe,lembrar suas mãos inquietas,sempre ocupadas, abrir o Azzaro de meu marido para recuperar seu cheiro e refixá-lo na memória,reler o caderno de poesias manuscritas de meu avõ poeta, Luiz Máximo, abrir os álbuns de fotografias e rever os que estãolá em outra dimensão.
E me pergunto,no meio de tanta evolução científica-na verdade o cérebro humano um computador absolutamente perfeito e capaz- quando vão inventar o celular interdimensões e o computador que nos mostre o outro lado cósmico? Não vejo a hora de ouvir os que se foram e lhes contar as novidades daqui deste nível de existência...
CPAL/CRP 04-2539
Publicado por clevane pessoa de araújo em 02/11/2006 às 14h05
Copyright© 2005 by ClevanePessoa. Todos os direitos reservados.Criado e hospedado por Recanto das LetrasPágina atualizada em 02.11.06 15:08
Considerações sobre a comunicação(I)
Imagens:coleção de selos chineses, enviados por L.Tsai
Comportamento Humano I
Sinais dos Tempos Hodiernos.
“Nenhum Homem é uma Ilha/qualquer homem é uma parte do todo(...)”
(John Dohne)
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte,02/11/2006
Definitivamente,talvez, os ermitões não teriam lugar no Mundo, agora. Estamos para vivermos em não solidão.Mesmo nos claustros,há o momento de, mesmo no silêncio, compartilhar-se , o banco de capela, o chão,o ar, em última instância.
Não há lugar para vivermos ilhados.A palavra ilha.que definiríamos nos livros escolares como “uma porção de terra cercada de água por todos os lados”,mas que alguns dicionários complementam:”terra menos extensa que o continente_...,o que revela:estar,ser a menor.”Aquilo que por estar isolado lembra uma ilha”.Ilhado,sinônimo de isolado.Quem assistiu “O Náufrago”, versão cinematográfica moderna de Robson Crusoé, vivida visceralmente por Tom Hanks um executivo da FedEx que consegue sobreviver em uma ilha no Pacífico, após um acidente aéreo,angustiou-se.Mais que qualquer dificuldade vivida pelo protagonista,o não ter com quem falar ,estar ou ser,a grande angústia do drama.O que mais tememos.
Não ter com quem comunicar-se é a verdadeira solidão.
O mundo,hoje, oferece dois recursos tecnológicos impressionantes:o celular( no Brasil, extremamente popularizado, para todas as classes sociais, do tijolinho aos quase laptops, que registram fotografias digitais )e o computador doméstico ou de trabalho.
Numa fila de ônibus, de banco,ninguém se entendia, fica ansioso:saca o aparelhinho e liga para a babá do filho, para a pessoa amada, para o desafeto-e “manda ver”.Não se liga muito mais para a privacidade.Todo mundo ouve todo mundo falar desde a transa de véspera ao golpe político.Aprende-se a escutar e deduzir nas entrelinhas.Seqüestrados podem avisar a polícia, aos familiares,se esquecerem de lhes tirar o pequenino adorado.Conversa-se comendo,deitado,tomando banho, dirigindo o carro-por mais que seja proibido.N o “viva voz”,todos os caronas acompanham as ações despencarem ou subendo, o xingamento, a notícia do prêmio e,constrangidos, constatam o abandono, a falta de grana, o diagnóstico de Gravidez, Câncer e ou AIDS.Até num banheiro de hotel de luxo, o cidadão, ao operacionalizar suas necessidades fisiológicas,poderá estar ouvindo no mictório ao lado, alguém se derreter com a amada ou planajar um roubo.
Novas regras de boa-educação:desliga-se o cel nas conferências, no cinema, no teatro, no recital, no hospital.Mas há os tão viciados que fingem esquecer, só para pedir ,quando o seu aparelhinho/ao chama,desculpas, fingindo-se constrangidos, e os que adoram , porque ,fazendo cara de preocupado, podem ir lá fora atender,e aproveitar para fumar seu adorado cigarro(avisariam à secretária: “D.Bia, ligue-me exatamente a cada uma hora,sim?Mesmo que eu não possa responder, é só para controlar o tempo...et blá-blá-blá...”.Nesses momentos é comum – já vi muito do alto, da mesa de palco onde estou ministrando alguma palestra_,assim que alguém pede licença e vai lá fora, acontecer um frisson de aflição, saudade,associação de idéias, lembranças,e , qual uma onda marinha, mãos se agitam, bolsas e bolsos são apalpados e várias pessoas retirarem seu celzinho(“ceuzinho” particular ou inferninho, limbo,purgatório sacrossanto) e consultar mensagens,torpedinhos,horas, quem ligou e ainda ,não raro também ,despistadamente, com o polegar ativo, mandar seus próprios recados.
Bexigas cheias começam a pedir socorro, barrigas vazias começam a ansiar pelo coffee-brake...saudades acordam do cochilo,preocupações batema aldrava na porta cerrada...
Uma das regras de etiqueta é não escrever ao celular enquanto alguém lhe fala, mas resistir, quem há de?
Já ouvi, no consultório,muitas mulheres me dizerem que graças ao celular, podem rastrear maridos, amantes, filhos adolescentes, funcionários.Sim, ele tocará a qualquer momento...mas poderá ser atendido do vaso sanitário, à cama de motel, ao carro durante uma transa ...
Quanto ao PC, esse aproximou todas as pessoas que querem COM/partILHAR:estar ilhado, sim , mas COM alguém que lhe responda ao desejo, ao sonho, à esperança.Uma senhora vetusta poderá enviar versos eróticos e, mesmo que não minta sobre a idade, dar a impressão de ser uma fogosa jovem.Afinal, a alma não envelhece e em que pese passar pelo espelho e assustar-se com a nova silhueta,o rosto plissado, a dupla papada, a alma tudo pode.Basta não ligar a webcam...Ainda mais, ao feitio preconizado por Fernando Pessoa,se a alma não for pequena, pode-se voar....Dedos trêmulos escrevem os palavrões jamais ditos,os “por favor” nunca lembrados, as declarações apaixonadas mais ousadas..Nova forma de traição aos companheiros:na calada da noite, nas manhãs vazias,as “Belles- de- jour”,os Cyrano de Begerac ,sejam ou tenham sido Catherines Deneuves ou Belmondos, podem arranjar novas e divertidas e/ ou sensuais companhias.
O imaginário em nossas cabeças é,ilimitável.Pode-se fingir morar em um País e estar bem no andar acima,na mesa de trabalho ao lado, ser um bom vivant e estar morrendo numa cama de hospital... qualquer cor de olhos, qualquer sexo.
Claro, há uma ética subentendida na Internet.Muitos, muitos, muitos, são absolutamente sinceros.Desempregados ou milionários,usando o próprio computador ou o do trabalho na hora do almoço,abrem a alma, fazem uma catarse necessária quando,na vida não virtual,mal abrem a boca,recusam psicoterapias, são discretos...
Muitos namoram, chegam a casar-se, encontram-se em alegres “Orkontros”,apóiam um doente, mandam fotos legítimas.
Tudo isso, porém,para combater qualquer sensação de ser ilha humana,muitas vezes cercadas por familiares ou colegas de trabalho.Quantos não atravessam o mar, para conhecerem o personagem do sonho,a criatura que lhes preenche a alma?Melhor que ser artista, então,é ser protagonista da própria história.Tórridos romances, grandes amizades,grupos de apoio, amigos para sempre...
Escrevo isso, depois de hoje, Dia de Finados,não findos em meu coração,acariciar a echarpe de minha mãe,lembrar suas mãos inquietas,sempre ocupadas, abrir o Azzaro de meu marido para recuperar seu cheiro e refixá-lo na memória,reler o caderno de poesias manuscritas de meu avõ poeta, Luiz Máximo, abrir os álbuns de fotografias e rever os que estãolá em outra dimensão.
E me pergunto,no meio de tanta evolução científica-na verdade o cérebro humano um computador absolutamente perfeito e capaz- quando vão inventar o celular interdimensões e o computador que nos mostre o outro lado cósmico? Não vejo a hora de ouvir os que se foram e lhes contar as novidades daqui deste nível de existência...
CPAL/CRP 04-2539
Publicado por clevane pessoa de araújo em 02/11/2006 às 14h05
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