Sem Máscaras
E nos usamos assim. Honestamente assim. Como quem veste a roupa depois do banho, às vezes com essências, outras tão essenciais. Não podemos dizer que as promessas não serão cumpridas, pois já não prometemos nada. E quando o vazio enche a Sala de Estar, decidimos nos olhar, e os olhos sorriem com a mesma boca que já disse não.
Em silêncio escutamos as histórias de outras horas, onde os prazeres não são de nós dois. Pois é só no silêncio que escrevemos a própria história nossa, sem fim, sem começo. Com único endereço. Nesses curtos minutos, curtimos cada segundo onde encontramos nossa cumplicidade amarrotada aos lençóis. A sós.
E vamos usando tudo em nós. Sem saída. Sem partida. Sem (re)sentimentos. Que estes, quando por ventura tentam se sobressair, a gente fecha os olhos com a mesma boca que disse sim. Esvaziamos a sala de não estar, e em silêncio sabemos: não há vagas. Honestamente não há vagas.
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Inspirado em trecho de Caio Fernando Abreu, in: Os dragões não conhecem o paraíso.