DESENHOS DA TARDE

Ela era a mais linda mulher que eu jamais vira em minha vida. Como num sonho, vi-a deslocar-se, etérea como um anjo, desfilando toda a sua graça pela praia. As ondas preguiçosas lambiam seus pés, seus cabelos voavam à brisa daquele fim de tarde. Um halo de luz dançava nos seus longos caracóis dourados. Ela era tudo o que um homem sonhou ou imaginou. Tudo o que um homem espera contemplar numa mulher. E algo mais. Além de tudo, tinha um ar enigmático, um quê de princesa e fada. Como o vento, passou. Deixou apenas essa imagem nítida, marcada para sempre na minha retina. Nunca mais a vi. Até hoje, ainda fico pensando: teria sido realidade ou sonho? Por isso, volto àquela praia, quase todos os finais de tarde, sempre naquele mesmo horário. Quem sabe os desígnios que o destino nos reserva? A esperança, dizem, é a última que morre. Eu só não entendo uma coisa: por que eu não tive a coragem de abordá-la, de dizer um “olá, boa tarde... Posso caminhar um pouco ao seu lado?” Ah, se arrependimento matasse!!! Mas, fazer o quê? Eu creio que tive medo de desfazer a magia. Descobrir ou perceber algo que não combinasse de dentro para fora. É isso: eu não quis estragar o encanto que me alumbrava naquele momento. Assim, eu poderia guardá-la intacta em minha mente, como num cofre, para sempre selado: uma deusa sem mácula, um anjo de beleza infinita desfilando ao cair da tarde. Uma recordação perfeita, feito uma dama eternizada numa tela de Edouard Manet.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 20/02/2011
Reeditado em 20/02/2011
Código do texto: T2803700
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