DESENHOS DA TARDE
Ela era a mais linda mulher que eu jamais vira em minha vida. Como num sonho, vi-a deslocar-se, etérea como um anjo, desfilando toda a sua graça pela praia. As ondas preguiçosas lambiam seus pés, seus cabelos voavam à brisa daquele fim de tarde. Um halo de luz dançava nos seus longos caracóis dourados. Ela era tudo o que um homem sonhou ou imaginou. Tudo o que um homem espera contemplar numa mulher. E algo mais. Além de tudo, tinha um ar enigmático, um quê de princesa e fada. Como o vento, passou. Deixou apenas essa imagem nítida, marcada para sempre na minha retina. Nunca mais a vi. Até hoje, ainda fico pensando: teria sido realidade ou sonho? Por isso, volto àquela praia, quase todos os finais de tarde, sempre naquele mesmo horário. Quem sabe os desígnios que o destino nos reserva? A esperança, dizem, é a última que morre. Eu só não entendo uma coisa: por que eu não tive a coragem de abordá-la, de dizer um “olá, boa tarde... Posso caminhar um pouco ao seu lado?” Ah, se arrependimento matasse!!! Mas, fazer o quê? Eu creio que tive medo de desfazer a magia. Descobrir ou perceber algo que não combinasse de dentro para fora. É isso: eu não quis estragar o encanto que me alumbrava naquele momento. Assim, eu poderia guardá-la intacta em minha mente, como num cofre, para sempre selado: uma deusa sem mácula, um anjo de beleza infinita desfilando ao cair da tarde. Uma recordação perfeita, feito uma dama eternizada numa tela de Edouard Manet.