Carnaval

O carnaval está chegando e não existe uma música, para os dias de momo que se aproximam. Muito diferente dos carnavais de outrora.

Lembro-me que três meses antes do carnaval, todos os cantores e cantoras do rádio já tinham, no mínimo, duas músicas fazendo sucesso.

Para não nos aprofundarmos muito, num passado distante, só para lembrar e matar a saudade de muitos: “Pirata da Perna de Pau”, de 1947:

Eu sou o pirata da perna de pau

Do olho de vidro, da cara de mau

Minhas galeras

Só têm garotas na guarnição

Por isso, se outro pirata

Tenta a abordagem, eu pego o facão

E grito do alto da proa

Homem não!

Pirata da Perna de pau foi um sucesso na voz de Nuno Roland.

Outro sucesso, “O Pedreiro Valdemar”, interpretado por Blecaute, em 1949:

Você conhece o pedreiro Valdemar?

Não conhece ? Pois eu vou lhe apresentar

De madrugada pega o trem na circular

Faz tanta casa

E não tem casa prá morar

Leva a marmita embrulhada

Num jornal, se come tudo

Depois não tem jantar

O Valdemar que é mestre

No ofício

Constrói um edifício

E depois não pode entrar

Outra música que virou sucesso, também na voz de Blecaute, em 1950, “Dona Cegonha”:

Ai Ai Dona Cegonha saiu risonha

Prá trabalhar

Voltou cansada, encabulada

Com a Cegonha ninguém quer nada

Antigamente trabalhava todo dia

Não encalhava mercadoria

Hoje a carestia está medonha

Ninguém quer nada com a Cegonha.

Ali por volta de 1950, no Rio de Janeiro, capital da República, existia um delegado de transito que multava até carro na garagem. Ai o carnaval era um grande motivo para protestar. Alcides Gerardi cantou, então, “Andar de Bonde”:

Comprei um carro

E não sai o ano inteiro

Do borracheiro, do lanterneiro

Vendi o carro, não sou milionário

Não sou otário

Quero o meu dinheiro

Eu era intimado todo dia

A comparecer na inspetoria

Avanço de sinal, contramão não sei onde

Parei, Parei, eu prefiro andar de bonde.

Mais longe um pouco lembrei de uma música da qual meu pai falava. Era do seu tempo de solteiro: “O orvalho vem caindo”, composição de Noel Rosa:

O Orvalho vem caindo

Vai molhar o meu chapéu

E também vão surgindo

As estrelas lá no céu

Tenho passado tão mal

A minha cama é uma folha de jornal

Meu cortinado é o vasto céu de anil

E o meu despertador é o guarda civil

(Que o salário ainda não viu!)

No ano de 1952, o conjunto Quatro Ases e um Coringa gravou a música “Pescador”, que fez enorme sucesso:

Domingo é dia

De pescaria,

E lá vou eu de caniço e samburá

Maré tá cheia,

Fico na areia

Por que na areia

dá mais peixe que no mar

Todo bom pescador ama o sol,

Todo bom pescador pesca em pé

Não precisa pescar de anzol

É só com o s olhos feito jacaré, é

Em 1951 o conjunto Anjos do Inferno lançou “Céu e Inferno”:

Para o céu ou inferno ?

Um anjo me perguntou

Para mim escolher, ele acrescentou

Só no céu tem belezas

Tem paz, tem grandezas

Você vai gostar

No inferno não tem nada,

Só tem samba e batucada

Para você sambar

Depois de tanto refletir

Ao anjo bom respondi

Quem vai pro inferno

Vai penar

Mas é para lá que eu quero ir

Laércio
Enviado por Laércio em 20/02/2011
Reeditado em 20/02/2011
Código do texto: T2803678