QUE ASSALTO, QUE NADA!
Que a desconfiança está estampada na maioria dos semblantes das pessoas, isto é inegável. Principalmente as residentes nas grande capitais, como por exemplo, São Paulo. Só que, algumas vezes, por algum motivo à sua revelia, algumas pessoas chegam a exagerar. Senão vejamos o caso que ocorreu com um humilde e pacato rapaz, recentemente chegado do nordeste brasileiro à megalópole paulista.
Após um cansativo dia de trabalho, enfrentando ônibus e trens lotados, quando desceu no ponto final, já no seu humilde bairro, resolveu alimentar o seu vício de tabagista. Lembrando que estava desprovido de fósforo ou isqueiro, resolveu pedir um pequeno favor à primeira pessoa que ele percebesse fumando. E coincidentemente, quem ele viu? Uma mulher. E ficou até mais a vontade para solicitar esse simples favor. Não pensou duas vezes. Achou não ser nada demais. Mas estava completamente enganado. Como se tratasse de uma pessoa totalmente desconhecida, portanto, nao sabendo o seu nome, apelou para o seu modo caipira lá do seu longínquo Estado. E soltou: "Hei, Hei", ao mesmo tempo que tocou no ombro da mulher que andava tranquilamente à sua frente, pelo menos até aquel momento. Ao ser tocada, levou um susto repentino e também não pensou uma vez e gritou: "Socorro, socorro!" Neste ínterim, como havia várias pessoas nas adjacências, aquele pedido chamou a atenção de alguns homens que estavam bebendo cerveja num bar próximo e, incontinenti, cercaram o pobre rapaz, que a estas alturas estava bastante atônito e sem entender nada daquela celeuma repentina. Foi quando alguém mais sensata, antes que fizessem alguma violência precipitada ao rapaz trabalhador e cansado, perguntou à mulher, pseudovítima, o que realmente tinha acontecido. Como a dita cuja estivesse ainda bastante abalada pelo susto e talvez fosse portadora de alguma trauma movido por um recente assalto, não conseguia falar coisa com coisa. A mesma pessoa então, ao se inquirir ao rapaz o que aconteceu, este embora também assustado com tudo aquilo, conseguiu, ainda com o cigarro apagado, explicar que tocou levemente no ombro daquela senhora, apenas para lhe pedir que acendesse o seu cigarro...
Ao perceberem que se tratara de um grande mal-entendido, aqueles curiosos, disfarçadamente foram se dissipando e ao mesmo tempo, comentando:
-" Você viu, vivemos num mundo em que não se pode mais nem pedir um fósforo emprestado para se acender um cigarro!" - disse alguém.
-"É verdade, mas dependendo da hora, do local e principalmente, da maneira como se é abrodado num caso assim, tudo pode acontecer!".. desabafou outro.
E afinal, aquele rapaz conseguiu acender o seu cigarro ou não? Foi a incógnita que ficou naquela roda de "amigos do copo".
É bem possível que, após esse rebu inusitado, ele tenha dominado a sua vontade de fumar até chegar à sua residência ou quem sabe, das duas, uma: ou parado com o vício de fumar ou a partir daquele dia, andar sempre com um fósforo ou isqueiro. É verdade, que a primeira hipótese ser-lhe-ia mais profícua e melhor.
Mas, cada um sabe de si.
João Bosco de Andrade Araújo