UMA TARDE COM AMIGOS

O entardecer ilumina o céu. Tudo sereno até meu livro de poemas cair das mãos quando cochilei. Acordei assustada, porém, meus companheiros do sítio, aos poucos, foram chegando: o bem-te-vi que canta sem parar, a Babuska, minha basset mais velha. Está surda e com catarata, mas corre e acompanha o resto da família: Neguinha e seus três filhos. Bob, também seu filho, pertence ao caseiro. Se não posso ver esta família todo fim de semana, morro de saudades.

Babuska é a mais simpática e amorosa; quando sua filha morreu deixando três filhinhos ela arranjou leite, já velha, amamentou-os e adotou os três filhotes. Foi lindo! Sua outra filha teve uma ninhada, quatro filhos raçudos e fortes. Neguinha é péssima mãe; não é que a Babuska faz as vezes da mãe, sempre, sempre. Neguinha abandona os filhos horas e horas, enquanto passeia, mas a avó ocupa o lugar da mãe desnaturada.

Agora passa a minha amiga lagartixa. Passa olhando comprido e desconfiada. Aí eu digo: - Aonde vai tão apressadinha? Ela para, levanta bem a cabeça, olha nos meus olhos e eu quase desmaio de medo que ela diga alguma coisa. Isto acontece sempre e, tenho certeza, ela entende o que falo. Qualquer dia desses vai me contar aonde vai.

Bob, o basset do caseiro é sistemático. É extremamente carente e, vez por outra, tem acessos de epilepsia. Fico impressionada como os cachorros têm personalidades fortes. Cada um é um. O Pingo Junior - até me arrependi de ter ficado com ele - é criador de caso, malandro, dorme o dia inteiro. Quando me vê, deita de barriga para cima só para receber carinho. Não tem a menor paciência com os irmãos menores; volta e meia morde um.

A Pilustrica, que já morreu, filha da Babuska, nunca vi tão antipática. Não sabia agradar, e tudo que fazia era fora de hora. Latia o dia todo por qualquer motivo. Tive até remorso quando morreu envenenada por algo que comeu no mato.

Agora vejo um enorme pássaro em cima do meu eucalipto australiano. Meu Deus! É uma enorme arara colorida! Linda! Espera ai, está brigando com um passarinho pequeno que defende seu ninho. Então é verdade! Já me disseram que arara ataca e come ovos dos passarinhos. Não queria acreditar. Agora vejo o pobrezinho lutar como um leão mas... perde a batalha. Também nunca vi tanta covardia num pássaro tão grande! Passei achar a arara horrorosa!

Os patos selvagens brancos, enfileirados, passam em bandos; lembram paz, equilíbrio, disciplina. Um belo exemplo para a humanidade. Os patos selvagens anunciam o fim da tarde. Vão dormir na velha barragem em cima das árvores. As árvores cheinhas de patos brancos ficam mais bonitas do que árvore de Natal.

Maria Eneida
Enviado por Maria Eneida em 20/02/2011
Reeditado em 21/02/2011
Código do texto: T2802936
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