Ele havia acordado com a cabeça pesada. Decididamente, não deveria ter exagerado naquela bebida de cor vermelha acentuada e de gosto amargo. No entanto, tinha feito a eleição por não escutar a sensatez. A questão é que o amanhecer trouxe-o a realidade, e o que é pior, escoltado por uma tinhosa dor de cabeça.
Seria um domingo convidativo se... Enfim! Mas, ficar em casa prisioneiro dos seus demônios não daria certo. Então, ensaiou um riso e o resultado final foi um amarelado e apagado, enfraquecido e adoentado riso. Calçou os chinelos velhos e literalmente se arrastou para o banheiro. Vestiu qualquer roupa e seguiu rumo à porta.
À frente dos olhos, a mais que conhecida, praça com os seus sempre presentes personagens da manhã de domingo: seu Roque lavando o carro vestindo a surrada camisa do Corinthians; a Gostosona da esquina desfilando com seu biquininho branco; o Turco do barzinho com a língua ainda mais enrolada e D. Zélia com sua cara velha e feia e ruim. Aquele era o seu domingo... quis chorar.
Quis chorar mais não pode. O que falaria para as pessoas quando notassem o seu pranto? Melhor era andar até o ponto de ônibus mais próximo e tomar o primeiro que chegasse rumo a qualquer lugar, portanto que fosse longe, muito longe dos seus pensamentos misturados à sensação do nada. Não bastasse tudo, ainda havia o nada.
Assim foi feito. Bastou chegar ao ponto e o primeiro ônibus riscar o asfalto pra ele acompanhar os passos de outros iguais de rostos desconhecidos. A partir daí tudo foi automatizado: enfiar a mão no bolso; sacar uma cédula de dois reais mais uma moeda; procurar assento; achar assento e... ficar ali à mercê de uma rota qualquer.
Enquanto o fim da linha não vinha ele se escondia. O Homem se entregou à poltrona do ônibus sem se importar com os solavancos de quando e vem. Encostou o seu cansaço. E em conformidade com as imagens que passam frenéticas do lado de fora; ele sentia uma fagulha ornar com iluminuras a tela de suas lembranças. Eram cenas geradas numa rapidez confusa capaz de perturbar a serenidade do espírito.
Ninguém via. Mas, no barulho das vozes entrecortadas por sons do trânsito uma lágrima guardava o silêncio. Ela serpenteava e abria caminhos quentes e úmidos no rosto tristonho. Ninguém via que agora o homem pendia a cabeça para frente, protegendo sua fraqueza com as mãos abertas. Ele estava só com suas dores.
Abriu os olhos. Consultou o relógio de pulso e se distraiu recordando ter comprado-o em uma feira de objetos seminovos. Isso não importava. Os ponteiros trabalhavam sem demonstrar pressa aumentando a opressão dolorosa daquele Homem. Estava sendo um dia comprido. Queria a noite, queria a cama, queria o ópio. E vai entender! Ele aguardava a noite trajando o medo.
Não adiantou. O fim da linha chegou e logo em seguida à noite... sem sonífero analgésico...
***
Leiam também:
O Homem (Parte 2)
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O Homem (Parte 3)
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Imagem - Fonte: Google
Seria um domingo convidativo se... Enfim! Mas, ficar em casa prisioneiro dos seus demônios não daria certo. Então, ensaiou um riso e o resultado final foi um amarelado e apagado, enfraquecido e adoentado riso. Calçou os chinelos velhos e literalmente se arrastou para o banheiro. Vestiu qualquer roupa e seguiu rumo à porta.
À frente dos olhos, a mais que conhecida, praça com os seus sempre presentes personagens da manhã de domingo: seu Roque lavando o carro vestindo a surrada camisa do Corinthians; a Gostosona da esquina desfilando com seu biquininho branco; o Turco do barzinho com a língua ainda mais enrolada e D. Zélia com sua cara velha e feia e ruim. Aquele era o seu domingo... quis chorar.
Quis chorar mais não pode. O que falaria para as pessoas quando notassem o seu pranto? Melhor era andar até o ponto de ônibus mais próximo e tomar o primeiro que chegasse rumo a qualquer lugar, portanto que fosse longe, muito longe dos seus pensamentos misturados à sensação do nada. Não bastasse tudo, ainda havia o nada.
Assim foi feito. Bastou chegar ao ponto e o primeiro ônibus riscar o asfalto pra ele acompanhar os passos de outros iguais de rostos desconhecidos. A partir daí tudo foi automatizado: enfiar a mão no bolso; sacar uma cédula de dois reais mais uma moeda; procurar assento; achar assento e... ficar ali à mercê de uma rota qualquer.
Enquanto o fim da linha não vinha ele se escondia. O Homem se entregou à poltrona do ônibus sem se importar com os solavancos de quando e vem. Encostou o seu cansaço. E em conformidade com as imagens que passam frenéticas do lado de fora; ele sentia uma fagulha ornar com iluminuras a tela de suas lembranças. Eram cenas geradas numa rapidez confusa capaz de perturbar a serenidade do espírito.
Ninguém via. Mas, no barulho das vozes entrecortadas por sons do trânsito uma lágrima guardava o silêncio. Ela serpenteava e abria caminhos quentes e úmidos no rosto tristonho. Ninguém via que agora o homem pendia a cabeça para frente, protegendo sua fraqueza com as mãos abertas. Ele estava só com suas dores.
Abriu os olhos. Consultou o relógio de pulso e se distraiu recordando ter comprado-o em uma feira de objetos seminovos. Isso não importava. Os ponteiros trabalhavam sem demonstrar pressa aumentando a opressão dolorosa daquele Homem. Estava sendo um dia comprido. Queria a noite, queria a cama, queria o ópio. E vai entender! Ele aguardava a noite trajando o medo.
Não adiantou. O fim da linha chegou e logo em seguida à noite... sem sonífero analgésico...
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