Qual é o seu preço?


Dizem que todo  homem tem seu preço. Eu simplesmente me recuso a acreditar em tal conceito. Fui, e ainda sou, ridicularizado por isso. Um verdadeiro crente na possibilidade da humanidade vir a ser melhor; obtive recentemente a comprovação de minha tese: a de que alguns homens não se vendem.

Você conhece alguém que recusasse receber 1 milhão de dólares como prêmio? Provavelmente encontraríamos poucos dispostos a abrir mão de tal quantia. Os mais céticos perguntariam se teriam que fazer alguma coisa errada para obtê-la. Nada de errado. Se você merecesse, como fruto de seus honestos esforços por um trabalho difícil, recusaria tal honraria?

Fiz a pergunta aos meus parentes. Ninguém que conhecem recusaria o dinheiro limpo, honesto, gentilmente oferecido como fruto de seus esforços. Mas existe alguém que de fato recusou. Um russo chamado Grigory Perelman foi o autor da desfeita. Por quê? Não se sabe ao certo, mas ele conseguiu desvendar um dos mistérios da matemática: a Secular Conjuntura de Poincaré. Apresentou o resultado de seus cálculos a matemáticos selecionados e postou-a em um site de matemática na Internet. Os matemáticos puseram-se a calcular. Contas, vírgulas e pontos, “w”, “x” e “y” mais “z”. Intrincado, complicado e “eureka”: o russo tem razão. O enigma foi para o espaço. Decifrado, solucionado e resolvido.

Queriam reconhecer o gênio, homenageá-lo, brindá-lo, sondá-lo. “Emails” e cartas enviados, telefonemas não atendidos, convites descartados. O alquimista dos números recusa-se a receber o mundo. Não quer o prêmio, a Medalha Fiellds, muito menos o dinheiro.

Deve ser rico então, pergunta-se. Que nada, vive mal em um apartamento apertado, compartilhado com sua mãe, em condições suburbanas. Dizem que gosta de passear nas florestas e colecionar cogumelos. Desde criança foi notado pela sua grande capacidade de solucionar problemas. Formou-se, ficou algum tempo nos Estados Unidos, foi convidado a lecionar em muitas Universidades tendo recusado todas as ofertas. Voltou para a Rússia.

O que motiva o sábio a abrir mão do mundo material, do reconhecimento, da fama, das ilusões que tanto seduzem a humanidade? Passa por exótico, excêntrico, louco até. Mas neste mundo insano, repleto de maus exemplos, muitos venderiam a alma por muito menos dinheiro que o cientista. Atropelam-se uns aos outros, esmagam, humilham e perdem a dignidade. O complicado problema que foi solucionado, cujo entendimento está longe do alcance da maioria de nós, provavelmente é um pano de fundo. Um ardil da providênica a nos alertar para a verdadeira questão: o exemplo moral.

Recusando-se a se vender ao mundo, aceitando com resignação sua condição financeira, motivando-se simplesmente por fazer o que gosta, sem prejudicar ninguém, é o que nos leva a pensar. 

O russo nos dá uma lição. Agradeço-o por confirmar minha crença. Enquanto muitos morrem, perdem a saúde, amigos e família por dinheiro, ele simplesmente se volta ao próprio Universo. Ele é um homem livre e nós, pobres coitados, permanecemos acorrentados aos nossos conceitos humanos...