A EMPATIA
Queria muito contar uma coisa interessante que me aconteceu ontem, mas hoje li umas crônicas de uma mulher que contava trechos de sua infância, e a empatia por ela e sua escrita simples foi tão grande que a sua história não me sai da cabeça. Acabou, de certa forma, a fazer parte da minha.
Não sei se foi porque ela falava da infância na fazenda, da pobreza distante e feliz, de porcos e galinhas e essas coisas, ou se foi pelo café com bolinhos de chuva que a mãe fazia. Sei lá o que me ligou a ela e a suas lembranças. Eu nem cresci no campo, nunca gostei de galinhas, mas de repente, ao ler o que ela escreveu viajei também, num passado que nem foi meu. Acho que a empatia veio pelas lembranças em si. Por tempos que não voltam mais. Por termos, às vezes, de tomar espaço emprestado em outros órgãos, porque o coração já nem bate direito, de tantas lembranças acumuladas dentro dele. Nunca fui saudosista, mas a saudade desta vez bateu doída.
E de repente, me vi com saudade das galinhas da mãe da mulher. Pode isso? Da couve, almeirão, coentro do fundo do quintal. Meu Deus! Eu odeio coentro! Mas aquele coentro parecia que nem gosto de agh! coentro tinha, tamanha a emoção com que ela se lembrava de tudo isso. Acho que é porque eu também tenho café com bolinhos de chuva na minha memória afetiva. Também tenho couve e almeirão que andam precisando pular para o teclado. Pensando bem, acho que só não tenho as galinhas, o resto sim, daí a empatia.
É estranho como a empatia vem em primeiro, depois é que a gente, escarafunchando é que vai encontrar as razões. E tem empatia melhor que saudades compartilhadas?