Apenas almas
Que dizer do poeta, homem simples do povo
Que aos dedos impõe tamanha responsabilidade ,
Traduzir os versos cálidos do coração aprisionado?
Sim, prisioneiro do tempo e do espaço , o poeta sabe , e sente as dores desse saber angustiante que é a poesia , palavras agrupadas ora sem formas inteligíveis, ora tradução gráfica de tão nobres sentimentos.
Tradutor e intérprete da alma , coube ao poeta a árdua responsabilidade de transformar e transportar , ao âmago do mundo a dor e a paixão, o amor na sua forma mais expressiva e pura.
Coube ao poeta , mais que versar sobre o mundo , antes transportar-se ao interior dele , para que , em versos e rimas e prosas ,deleitássemos ao som de imemorial magnitude e grandeza.
Coube ao poeta sofrer , chorar as amargas lágrimas dos malditos, dos parias, dos esquecidos. A ele foi destinado a heresia de uma existência atormentada , ainda que em tão belas palavras nos levasse ao êxtase na sua forma mais plena.
Que não se enganem com seus sorrisos ; antes dele se compadeça pois sua alma em luto sangra , as veias estuporadas na incompreensão e inconstância de um mundo caduco e caótico que , lentamente perde a cor e a forma.
O poeta , antes que já libertado da angustia que lhe pesa aos ombros e lhe umedece os olhos , deve ao mundo calar-se. Seus silêncios se farão sentidos no triste eito de tantas almas que, como ele , vagam sem cor e sem nomes, sem rostos , apenas almas.