Mariana chegou ao escritório com uma forte dor no pescoço.
- Só transplante pode resolver o meu problema. Quero um pescoço novo e tem que ser agora.
A faxineira, que estava limpando as mesas, ouvindo isso disse: dona Mariana, que maravilha! Já se pode trocar de pescoço, é?
Vou lá no SUS pra ver se eles trocam o meu.
Mariana, apesar da dor, teve que rir da ingenuidade da moça.
Resolveu que faria sessões de shiatsu e logo uma colega lhe indicou o site onde poderia comprar 4 períodos de meia hora por apenas R$ 79,90.
Feita a compra ela imprimiu o cupon e ligou para marcar.
Uma máquina atendeu: Você ligou para “Dor nunca mais”, no momento todos os nossos profissionais estão em atendimento. Deixe seu nome e telefone que ligaremos tão logo seja possível.
Dez minutos depois ligou um homem de voz aveludada e a hora foi marcada.
Mariana sentiu-se aliviada, sabia que ia melhorar em poucas sessões.
Na primeira oportunidade parou para um cafezinho e encontrou suas duas amigas: Leni, a pessimista e Carla, a otimista.
Leni a apavorou. Você é louca de ir ao consultório de um cara que você não conhece, não teve indicação de ninguém, conheceu na internet! E se ele for um psicopata? E se for agressivo? E se for maluco? E se for um serial killer? E se for um marginal? E se for pedófilo?
- ALÔÔÔ – disse Mariana – pedófilo são aqueles caras que só comem criancinhas e eu já estou com mais de cinquenta, minha carne deve ser dura. É melhor você trocar pelo lobo mau, que gosta de comer avós.
Carla pede a palavra.
Amiga, vamos ser otimistas. E se o cara for sarado, 1,90 de altura, pernas grossas, olhos verdes, peito cabeludo, voz macia e mãos quentes?
Aí, amigas, ele é que está correndo perigo – disse Mariana. Sequestro-o, meto-o num avião e fujo para o Havaí,
O café terminou e aquelas minhoquinhas ficaram brigando dentro de sua cabeça.
Sarado ou marginal?
Olhos verdes ou serial killer?
Peito cabeludo ou psicopata?
Ai, meu Deus, vou ou não vou?
Vou...não vou...vou...não vou. VOU! Afinal viver é perigoso e, como dizia Roosevelt, “Pior do que o fracasso e não haver feito a tentativa”.
Chegou ao consultório do rapaz. Ele mesmo veio atendê-la. Não havia recepcionista nem outro profissional. Era só ele, Mariana e São Jorge, santo de sua devoção, o qual ela invocava sempre que estava em emergência.
Mariana começou a rezar.
Meu São Jorge me salve dessa situação difícil ou o senhor já sabe: fica de castigo virado pra parede até eu resolver a minha dor de pescoço.
Não sei se foi o santo que a ajudou, mas o rapaz era um jovem atencioso, um profissional de primeira, o consul-tório era agradável e a música que ele botou foi o complemento ideal para o sucesso da massagem.
Mariana quis marcar a próxima sessão, mas a agenda do rapaz estava lotada. Ela teve vontade de pedir que ele a atendesse das 2 às 3 da manhã, em sua casa, entre um copo de vinho e outro, mas ficou com medo que ele pensasse que ela era “facinha”.
Contentou-se, então, em ficar na lista de espera.




 
edina bravo
Enviado por edina bravo em 18/02/2011
Reeditado em 06/02/2014
Código do texto: T2799397
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