Tanto Mar?

<<... Mas o Brasil foi e permaneceu sempre, no sentimento profundo de muitos Portugueses, o último reduto da esperança, na busca por um melhor destino ou na luta pela liberdade. Ou um mero local de refúgio, a fronteira limite de uma mudança, como a casa de um familiar que nos acolhe numa crise de vida...>> (Francisco Seixas da Costa)
De: Silvino Potêncio,… ® Os Gambuzinos (282) ... Tanto Mar!?...

Tanto Mar!?... assim na sua forma exclamativa e interrogatória foi a nossa reação, ao olharmos por sobre o Campo das Cebolas o Mar da Palha que se situa na margem esquerda do Tejo, em frente à Capital do Reino, isto porque foi ali que, pela primeira vez, nós avistamos tanta água junta, lá nos idos do início de Março de 1962, quando desapeamos o nosso corpo frágil de Menino, com apenas 13 anos de idade ao chegarmos à Velha Estação de Santa Apolónia, para nos alistarmos forçadamente na Emigração involuntária.

Tanto Mar!?... é o título extremamente simbólico do Livro do Dr. Francisco Seixas da Costa, nosso Amigo e Ilustre Conterrâneo Transmontano, o Digníssimo Embaixador de Portugal em Paris, que nos presenteou com esta verdadeira Obra Prima – sabemos que ele tem várias outras obras, elaboradas e trabalhadas ao longo da sua excepcional Carreira Diplomática internacionalmente conhecida por Homens e Mulheres que tiveram o condão de com ele conviver e aprender em vários quadrantes globais, aonde a Cultura Lusa chegou ao longo do tempo.
- Nós apenas captamos dele aqui um ínfimo e singelo conhecimento deste imenso país Continental, onde vivemos há muitos mais anos do que Sua Excelência apesar de tudo!... e por isso lhe agradecemos de público;
- Obrigado primeiro pela sua amizade Transmontana isenta de ideologias políticas de qualquer natureza, depois pelo muito conhecimento que nos deixou na sua obra enquanto Embaixador de Portugal em Brasília.
– Obrigado Amigo e Senhor Embaixador Dr. Francisco Seixas da Costa... temos saudades da sua presença em terras Tupiniquins!

Agora de volta ao “Rêgo” - como diria Dom Dinis o Labrador – acrescentamos da nossa própria ortografia, meio que acordados...meio que sonâmbulos pela origem da verve, mas ainda naquela penumbra do momento transitório que vivemos dentro da Lingua Portuguesa como “Pátria” de um Povo em busca constante pela novidade do amanhecer com um odor de cravo pendurado na lapela ou na janela, em vez de na ponta da “G3” .
- Acordar em manhã de primavera Abrilina com um cheiro a alecrim, vindo do tal jardim plantado a duras penas sim!... mas com honra e glória das viagens de um passado tempestuoso por mares nunca dantes navegados !...(passe a glosa tão declamada ao longo dos séculos), em vez da fumaça das queimadas sub equatoriais ou das chamas de um “napalm” que, usado em vão, desnecessáriamente, de forma tão insensata para tentar segurar uma “grey” que não mais existe.
Acrescentamos aqui esta paradigmática revelação do novo mundo, o novo concerto da ponte oceânica dos tempos pós modernos, como sendo o velho padrão emigrante em terras desconhecidas,...
E, das quais os “Brasis” de antanho, que sempre foram refúgio de bons e honrados cidadãos, aqui chegados na esteira de um Reino que outrora aqui assentou Praça de “mala e cuia”! ... mas que, aos poucos, se perdeu nas ondas deste mar de cor verde rubro já sem muita esperança de calmaria a curto prazo.
Nem mesmo os alízios sopros entre trópicos já conseguem refrescar ânimos de exarcebação pelo poder a qualquer custo...que é tão frágil, tão efêmero!...
- Contudo, é também destino de bandidos e mocinhas, de corruptos e de falsos paladinos da luta pela liberdade!
- Por outras palavras, quiçás mais coloquiais podemos afirmar que; “vira e mexe... surgem dificuldades na Santa Terrinha, e logo o primeiro pensamento é ir para o Brasil”!...
Será isso a solução de todos os males, ou apenas simplesmente ir ao Brasil em busca de soluções que residem debaixo dos intempestivos narizes factóides pinoquiáis? ... muito em voga pelas Vielas Alfacinhas da actualidade!
E como se tem cá vindo tanto ultimamente!?...tanto que, a cada trique, já escutamos que chegou mais um novo integrante da prática do “escambo” político-ideológico em busca de milagres.... como se “Porto Seguro” continuasse a ser a linha de um azimute que teima em não cortar o cordão umbilical secular.

Nós, em nós mesmos... e em Pessoa, logo depois que saímos do Ultramar, em condições que nos escusamos repetir aqui, por demais sobejamente conhecidas de todos, também nós nos alongamos ainda por terras de Bule e Queime (uns dois anos ) e lá pelas veredas do Rio Ponsul em plena Beira Baixa por mais dois anos!... {à espera da morte da bezerra} antes de recorrermos ao extremado exercício de emigrar e o fizemos, já então, mais ou menos de forma extemporânea.
Aqui chegamos!... e as raízes começaram a surgir, pois que... ser independente é algo irreversível ao emigrado. É objectivo comum muitas e muitas vezes indecifrável porém perene, constante!...
Aqui vive-se com o corpo em determinado lugar, e a mente sempre ausente!
Seria o caso para se afirmar alegóricamente que os emigrados são (des) mentalizados do eterno carinho da terra mãe!?... Talvez!
Lá no “Reino” fazem-se actualmente mil coisas para se sair da marcha para a Calçada da Ajuda externa, e cá na outra banda do Mar?!...
Cá, fazem-se também muitos exercícios e malabarismos contábeis durante toda a existência até ao momento de juntar as “bicuatas” para podermos voltar à velha “palhota” Luz & Tana... e nesse exercício contabilistico onde cada pataca, cada cruzado, cada moedinha da sorte vai para o fundo de um mealheiro já surrado do uso... no entra e sai de crises infindáveis para desaguar numa desilusão sustentada pela fé de um dia voltar ao lar materno, descobrimos o fim do começo!
- Terra é como Mãe... só temos uma, aquela que nos dá o ser!
- Aquela que nos dá vida!... aquela que provê a continuação da espécie naturalmente.
Nesta simbiose de idéias, neste carpir de sentimentos congêneres damos connosco a comparar preceitos e métodos operacionais. - Damos com a nossa imaginação quase paralela de a tudo querermos igualar-nos, para dar vazão ao sentimento menor de invejar o que não podemos ter.
Ultimamente, e não raramente, temos conhecido de perto tantos e tantos emigrantes, outros, que não aqueles de décadas passadas, que por cá arribam hoje em dia, em busca sabe-se lá do quê!?...
Novos emigrantes esses que, de alguma forma, vão transformando conceitos e valores, mesmo os mais arraigados à nossa índole pacata e simplória. Assim se vai modificando o tecido do nosso espírito de honestidade e de bem servir aqueles que nos aceitam por vizinhos...
Enfim ... hoje, ser emigrante em Terras de Potis e Guaranis, de Tupis e Xingus, de Xavantes e Guararapes, já não é a mesma coisa de anos atrás.
Afinal as viagens nos dois sentidos da estrada náutica, hoje se limitam ao tráfego de bens e mercadorias – quem mais der mais amigo é do santo!... e, as pessoas, essas só vêem tanto mar lá do alto das nuvens.
Não se sente mais aquela nostalgia da proa de um qualquer “Santa Maria” em busca de porto de abrigo!
- Não há mais bombordo, nem estibordo... só o horário de chegada e algum numero de vôo. - A beleza de um lenço na beira do cais tanto para saudar a chegada como para chorar a dor da partida, é figura decorativa na memória de quem vai e vem, apenas em pensamento... até quando!?
Só Deus sabe! – Fiquemos com ele, todos!...
Silvino Potêncio
Emigrante Transmontano - O Home de Caravelas de Mirandela.
Autor de: http://osnizcaros.blog.pt
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www.silvinopotencio.net
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 18/02/2011
Reeditado em 07/02/2014
Código do texto: T2798993
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