Sessão da tarde, noites de conversas
Onde foram parar aquelas conversas nas noites quentes de verão?
Naquela rodinha de meninos, sempre em uma ruazinha de cidades do interior... Eram tantas as histórias... Sempre com medo quando um começava a falar de fantasmas e de casas mal assombradas.
Uma estóriazinha que eu conhecia - hoje lembro-me vagamente, falava de um neguinho, a encarnação do demônio, caindo membro por membro no pote... As lembranças, vagas, espaçadas. Não que eu não quisesse mantê-las vivas, mas... cresci...
... Conta aí num sei quem, aquela história da raposa... E todo mundo ouvia caladinho, toda a imagem era projetada nas cabecinhas grandes daqueles miúdos como eu. Os traquinos sempre tinham uma história de um lobisomem... ele arranhou uma porta num sei aonde... as mentiras mais verdadeiras que se pode inventar.
... Caí no poço. Quem te tirô? Foi meu amô. O algoritmo para acertar na menina mais bonita da filinha era sempre falho. A salada mista? Segundo plano... ninguem queria correr o risco de beijar um menino.
Traçada a linha, duas rondas, quem conhece sabe, então... bandeirinha arriô, pé na risca, começô. E corria-se para as rondas, haja pernas. A diversão era garantida, e nem tinha brinquedos para quebrar... coisa de pouca importância... os calangos verdinhos eram grande diversão, coitados, presos puxando uma latinha de sardinha amarrada no barbante...
4:00 horas, bora logo, vai começar a sessão da tarde... bora.
A abertura era um show à parte, o solo de guitarra fazia um borburinho na cabeça de todo mundo... o vôo do navegador, de volta para o futuro, curtindo a vida adoidado, a lagoa azul... Só não tinha pipoca todo dia... os filmes enchiam os olhos abobalhados, resenhas? Depois. ... filme de karatê, de tiro, filme do batman, e Robôcop dia de quarta de noite.
Meio-dia, carne frita, feijão machucado, sem arroz e com uma colherada de óleo para "temperar", depois um geladinho de quisuk... prato limpo... resenha do esporte para abrir a tarde, e para quem não entendia nada, tudo lindo, fascinante. Deitado de barriga no chão frio, macio, dava até pra dormir, mas tinha sempre uma novela de tempos desconhecidos, com músicas , histórias boas... aquele tempo era bom...
Bola de borracha, traves de tijolos, campo de terra, e um corrégozinho de água, pra molhar a bola e empretecer os pés... Bobagem de garotos, sabedorias de garotos.