FILHOS TIRÂNICOS
Quando se fala em filhos tirânicos vem a imagem do filho(a) único(a) que quer a posse da mãe ou do pai só para si. Conheço vários que não são filhos únicos. Há que buscar a história do sujeito para identificar este tipo de comportamento que, geralmente, é revelado desde a infância. Certa vez fiquei impressionada com a atitude de uma garota de 6 anos ao se introduzir em uma conversa que eu estava tendo com a sua mãe e falávamos sobre um Seminário, que era de interesse para nós duas. A garota observando, resolveu falar para dizer: "Ela não vai,porque eu não quero!" A mãe não expressou nenhuma reação, parecendo permitir que a filha(sem pai) mandasse na sua vida. Tempos depois escuto pessoas, do convívio dela e meu, dizerem que a menina dava muito trabalho, sem limites, saindo para baladas, voltando quando e como queria. Não sei como anda hoje, se casou etc. Acredito que a carência afetiva dos pais seja grande para permitir a inversão de comando, de lei, de ordem, respeito, hierarquia e limite. Ninguém perde amor de filho por mostrar, com segurança, a sua verdade. Já vi depoimentos de filhos adolescentes que reclamam do fato dos pais serem permissivos demais, percebendo o quanto estão perdidos, inseguros, querendo compensar afetos e amor para serem bonzinhos e tentar equilibrar as suas próprias carências.
Nos velhos tempos havia respeito e ordem excessivos, bem como disciplina. Hoje muita coisa está às avessas e, por falta de coragem, pai ou mãe, temendo perder o amor do filho(a) se sujeita a fazer sua vontade, sem força, perdido(a) para dizer um não e mostrar, com diálogo, o que acredita, até porque anos de experiência colocam estes pais numa posição de melhor saber o que é conveniente, o que é possível, o que é mais adequado e melhor, de acordo com as circunstâncias.
Vi o filme "A árvore" e achei que não fosse gostar, pois o título não me motivou. Enganei-me. Começa a mostrar uma família com 4 filhos de 2 aos 16 anos. Há uma menina com sete que é tirânica e isto é demonstrado em relação ao pai. Por conta de um infarte fulminante do pai, a mãe passa por uma fase depressiva e depois quer e tenta retomar a vida, trabalhando e se relacionando com um bom homem. O obstáculo maior foi a tirania da filha e a mãe colocando os filhos acima de tudo, o que deve ser,só que usando de sensatez, o que não aconteceu por conta do poder e manipulação,injustiça e opressão da garotinha, inclusive levando à mãe a ser irresponsável com a vida de todos, sacrificando,inclusive, sua vida afetiva. O filho adolescente percebe qual a manipulação da irmã e é o que consegue colocá-la em seu lugar, embora sendo jovem sua mãe não lhe dar ouvidos.
Vou ao Jung e ele diz que há que se perguntar sobre os "acontecimentos carregados de afetos e os desejos recalcados de seu passado recente", para descobrir em que ponto da história foi determinante para que o comportamento assim fosse manifestado.
Cabem aos pais, o que não é fácil, a difícil tarefa de impor seus limites e seus valores. As manipulações e chantagens devem ser percebidas com clareza, até para se ter o controle de atos que não sejam aprovados. É muito estranho os filhos comandarem os pais, em uma fase em que ainda precisam de orientação e estão em formação. Os pais devem estar de olhos abertos, já que filhos não são opções e são mesmo " para todo o sempre". Infelizmente é o que há mais difícil de se fazer: educar filhos, pois cada um é diferente e vai fazendo sua história também peculiar. Um dia ouvi: "Bom que os filhos viessem com um manual de orientação". Como não vem , na base de erros e acertos, esperando mais acertos que erros, se vai tentando fazer o melhor para frutificar adultos equilibrados.