As horas difíceis
Algumas horas são difíceis. São as que fogem ao padrão do copo quase cheio. Explico: alguém perdido no passado certa vez falou –é fácil distinguir a pessoa otimista da pessimista. O otimista, a frente de um copo com líquido pela metade, dirá: que bom, está quase cheio! Assim mesmo, com exclamação. Já o pessimista não vai se permitir a alegria. Resmungará, sem dúvida – que droga, o copo está quase vazio. Pois estas são as horas difíceis – quando o copo se encontra quase vazio. São as horas em que se descobre que o tempo não para, que o espelho está deformado, que o dinheiro está mais curto que o mês, que o sapato aperta e as roupas não servem mais.São as horas em que você sai para a rua e se sente invisível. O texto que você quer escrever está bloqueado, sua obra prima nunca será escrita, o Correio não passa, o telefone não toca. A hora em que você descrê de si mesma e descobre que nada, absolutamente nada é certo e comprovado. E é nessa hora que se faz necessário um grande esforço para mudar de posição e ver o copo por outro ângulo. Para percebê-lo quase cheio, mais uma vez.