por uma canção

Manhã do dia 08 de fevereiro, data inesquecível em que me aguardavam acontecimentos incríveis. Há alguns dias um sentimento inquietante já me perseguia, juntamente com muitas dúvidas que culminaram num ato conflituoso, um pouco perigoso, mas realizado. Depois de repensado e corrigido algumas dessas arestas não aparadas, eu não imaginava como seria essa inesquecível manhã de terça feira. Não divulgo os inquietantes fatos que perseguiram meus dias, nem o ato crucial que submeti uma pura e angelical alma que eu adoro e estimo desde os primeiros dias, tal qual o raiar da manhã, de uma manhã com promessas de primavera, mas asseguro que não foi nada criminoso ou vergonhoso, apenas inquietante e misterioso. Pensem os leitores em suas possibilidades de interpretação, mas não condenem a pena que escreve.

Com minhas preocupações habituais e a rotina de sempre, nunca deixando de pensar nela, não acreditei que a encontrei, de forma inesperada, onde jamais imaginaria vê-la. Conter a emoção não foi possível, diante da surpresa, e nós tínhamos assunto para pôr em dia, conversas e olhares foram trocados, quando percebi ainda mais em seu abraço terno e puro, seu sorriso apaixonadamente carinhoso e suas palavras de atenção, que me fizeram compreender que estava diante do magnífico, e que estávamos prontos para o esclarecimento, que ela sem dúvida esperava, e achou merecido dizer em palavras, olhando nos olhos, sem a fluidez das mensagens transmitidas eletronicamente por esses meios virtuais.

Saímos a passeio, enquanto a garota referida também ia resolver uns problemas dela, eu desocupado e com o coração somete nela, pude acompanhá-la e ouvi-la, após minhas sinceras explicações diante dos dias anteriores que por nós tinham passado sem serem despercebidos. Eu a entendi e vi que as coisas acontecidas mereciam um ajuste fino, destes que qualquer mecânico sensato não pode deixar de fazer em um carro, independente da cara do freguês.

Entramos em entendimento e acordo, sincero e lindo como uma flor de primavera nascida num asfalto em plena chuva de verão, onde nenhum carro passa, apenas contemplando-se a obra de Deus, com descanso no sétimo dia. Tanto foi que mudamos de assunto, e passamos a versar coisas do cotidiano. O tempo não passava: voava impiedoso quando estava escutando sua voz, sua sabedoria impar e decisiva. Corremos. Era seu ônibus que já saia, levando embora a sensatez da manhã, as brisas de primavera, seu doce perfume, a perfeita voz, que corria em sua direção a fim de alcança-lo, deixando-me para trás, sem forças para correr, enquanto eu esperava de longe, atento, seus últimos passos em direção àquela porta que se fecharia e levaria, mais uma vez, a recompensa da minha manhã de terça feira, finda com a paz que Jesus desejou a seus discípulos três dias depois da cruz e do sofrimento, das negações e arrependimentos. Eu estava em paz.

Pouco antes do crepúsculo do mesmo dia, ainda em lembranças á adorável manhã, o telefone da garota toca e ela atende, percebendo que sou eu quem chamou, para finalizarmos a conversa da manha, que eu não havia ficado de todo contemplado, muito mais porque queria contar-lhe coisas outras, além de ter aprendido um pouco mais a pesar os fatos nos pratos da justiça, ocorrendo que o julgamento é falho e ainda mais perigoso quando não ouvimos a razão e por uma boba emoção, batemos o martelo e determinamos um enganoso veredito. Relembrei a ela as coisas de sempre, e ajustados num total entendimento eu falei a ela sobre uma canção, que a ela dediquei, e com alegria esperava a oportunidade de mostrar. Marcamos para nos encontrarmos dois dias depois, quando ela estaria de volta, com os ajustes no horário e local, e isso ficou guardado no meu pensamento até a hora precisa do acontecimento.

Logo que amanheceu o dia 10, marcado para o encontro, logo liguei para ela a fim de confirmar o compromisso, o qual foi de pronto lembrado por ela, que referiu-se confirmando hora e local, antes mesmo que eu a lembrasse disso, demonstrando seu interesse em ouvir-me.

Dai em diante as horas não passariam, parecia que o ponteiro estava quebrado e o tempo parou. Fui trabalhar, achando que, assim, as horas se arrastariam até o momento ápice da questão.

Inútil dizer que a espera foi um tanto monótona, pois o tempo estático teimava em me atormentar, ao que chegou o momento e a garoa me liga a dizer que me esperava. Fui ao seu encontro, sem saber se havia na estrada flores ou diamantes, mas apressei o passo, para apressar o momento. Por uma canção nada iria interferir aquele momento. Por uma canção o dia estava abençoado. Restava o principal. A coragem para cantar, a voz para agradar, a letra pra fazer pensar.

Cheguei ao local marcado e após as saudações de sempre treinei algumas músicas e conversamos um pouco. Não estávamos a sós, pois uma amiga nossa havia encontrado a garota e por lá ficado, ao que depois outra se aproxima, deixando-me a oportunidade de cantar a canção. Vi que as outras conversavam entre si e decidi que seria aquela a hora de cantar e fazer o melhor, por uma canção.

Queria te fazer uma canção de amor, mas não sei o que dizer; a emoção do coração, as palavras não conseguirão dizer tudo que penso e sinto... Mas não importam as palavras, se você está aqui pra me ouvir cantar. Pois só valem as palavras, cheias de sentimento, que com amor eu fiz uma canção; pois só vale o sentimento, que é dirigido a você, e que com maior zelo eu fiz essa canção de amor.

A garota me disse da profundidade dessas palavras, a validade dos sentimentos e sua infertilidade em querer julgá-los, cabendo-lhe a vontade de apenas admirar e apreciar tal canção, no que se diz, nas palavras dela, “esteticamente agradável aos ouvidos”.

Por uma canção eu fiquei feliz, por uma canção eu preparei tais versos. Por ela me fiz um poeta cantor, expondo nas notas do Sr. Alberto Jovi, o nome de batismo do violão que toquei a canção, pertencente, instrumento e música, à garota entoada naqueles simples versos, a qual tive o prazer de acompanhar alguns metros de caminhada, para depois me despedir, com esperanças de reencontro próximo. Despedidas de até logo e desejos de paz. Por uma canção, eu a verei novamente.

damiaoaraujo
Enviado por damiaoaraujo em 17/02/2011
Código do texto: T2796747
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