"Mas você vai ser professor?"
Há coisas nesse mundo que são difíceis de compreender, mas outras parecem ser incompreensíveis devendo ou podendo ser absurdas quando as falam para alguém do curso de licenciatura, com a seguinte pergunta: “Mas, você vai ser professor?”. Com certeza absoluta, muitas pessoas já passaram por essa situação constrangedora e, até mesmo, arrogante devido ou à falta de informação ou à opinião negligente de pessoas leigas ou mal-educadas. Algumas pessoas entendem que as “melhores” carreiras seriam as mais concorrentes no temido vestibular como Direito, Medicina, Engenharia, Odontologia, entre outras; avaliando-as desse jeito pelo critério remunerativo que poderia ser conquistado pelo bem-estar na profissão. Acredito que muitos atuam em áreas indesejáveis por pressão familiar e/ou social e se esquecem daquilo que desejam seguir profissionalmente.
Dois fatores que, em minha opinião, agravariam mais a situação de cursos menos procurados seriam as péssimas condições de trabalho para professores e a falta de esclarecimento sobre as áreas/habilitações em que se pode trabalhar nesses cursos (Letras, História, Artes Plásticas/Cênicas, Filosofia, Geografia, entre outras). A priori, são de conhecimento nacional as péssimas condições em que escolas públicas se encontram para o trabalho e que são intensificados pela falta de reformas na educação, a falta de planejamento escolar, a baixa remuneração e a falta de inovação dos docentes, além da violência de alunos, o que vêm ocorrendo muito nos últimos meses.
Além disso, esquece-se de que há um leque imenso de áreas em que se poderia atuar pelo curso de Letras, como em ramos de linguística, literatura, línguas. Há vários grupos de pesquisa no ramo das letras, até mesmo incentivados por órgãos federais, como a CAPES e o CNPq que já assinaram obras de grandes nomes das Letras como Ingedore Koch e Antônio Marcushi. Entre esses grupos, posso citar a Associação Brasileira de Linguística (ABRALIM – fundada por Joaquim Mattoso Câmara Júnior); Associação nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANAPOLL); Associação de Linguística Aplicada do Brasil (ALAB), entre outras.
O que ocorre hoje em dia é um descaso total com a educação brasileira e o preconceito sem sentido – por causa dos motivos já citados – que os professores (e até mesmo acadêmicos) sofrem da sociedade, que não mais os veem como antes (propagadores de conhecimento): hoje está totalmente sobrecarregado por ter que exercer a função de outros elementos sociais, inclusive a dos pais. Deve-se, então, haver mudanças na área da educação ou as consequência serão drásticas, e as palavras do escritor e filósofo Séneca não significaram nada: “A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.”