A saudade não morre, mata

A multiplicidade de atividades impostas pela vida moderna nos condiciona a correr contra o tempo.Falo por mim e por tantas outras pessoas com as quais interajo,cujo tempo é tão exíguo que parece encurtar a vida,mas quando nos vemos diante de um domingo sem nenhum compromisso,mesmo que seja partilhar uma garrafa de espumante gelado com um(a) amigo(a)associado a um bom papo,perdemos o interesse pelo tempo livre,ele agora nos assusta não sabemos como conviver com ele em tais circunstâncias.

Em um desses domingos chatos,lá estou eu à beira do caos,morrendo de medo de ficar a sós com ele e com a solidão que só anda de mãos dadas com a saudade.Resolvi preencher todos os espaços vazios fechando assim, todas possibilidades para possíveis acertos de contas com o passado.Decidi realizar uma tarefa há muito adiada,mas necessária.Organizaria a coleção de discos,cds e dvds,enquanto ficaria ouvindo uma seleção musical com um pouco de Blues e Jazz,quase tudo de Bossa Nova e o melhor da MPB.

Enquanto mergulhava nesse universo de música e poesia,percebi a chegada de um turbilhão de lembranças,lugares e momentos partilhados com pessoas amigas e familiares queridos.Todas essas imagens do passado iam se concretizando e compondo um cenário,cujo foco era a saudade de tudo,de todos e da própria vida.

Esse altar de lembranças me remeteu a todas as pessoas que de alguma forma, marcaram a minha vida trazendo o céu para perto de mim.

Por sorte,é relativamente fácil amenizar a saudade de quase todos,telefonando e ouvindo a voz de quem nos faz falta, pode se mandar um e-mail e marcar um encontro ou mesmo optar por alguns minutos de conversa pela net com direito a imagem.

Em oposição a todas essas possibilidades,está a saudade daqueles que já nos deixaram não por assim desejar,mas por decisão de quem comanda a vida e determina a data da partida sem direito a levar bagagem,tão pouco saber como e aonde vai.Sabemos porém, que não voltam e que a ciência e a tecnologia ainda não descobriram nenhuma forma de conexão com esses viajantes que tanta saudade deixaram.Resta aos que ficam os registros afetivos:os álbuns de fotografia,alguns desses vídeos bem amadores feitos para registrar aqueles momentos que nunca se repetirão e por isso os queremos bem presentes na memória,no coração e nas gavetas de nossas recordações .

Tudo isso muito bem guardado para se recorrer quando a dor da ausência exigir que se busque uma forma alternativa de matar a saudade de alguém ou de algum lugar do passado,mas ao contrário do que se pensa e propaga,a saudade não morre,mata.

Diulinda Garcia de Medeiros
Enviado por Diulinda Garcia de Medeiros em 15/02/2011
Reeditado em 17/03/2014
Código do texto: T2792840
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