O casal, o suor e o motel

E lá estavam eles novamente...

Deitados de frente, um em cima do outro, trocando suores que juraram

ser solitários. Ambos, irônicamente, como um só ser. Íntegro.

É bom que fique claro que aquilo não deveria ter acontecido. Eles

haviam terminado há mais de dois anos. Mas, todo dia 13, independente de tudo, lá estavam eles. Naquele mesmo motel barato, tomando a mesma cerveja, com o mesmo ar melancólico. Depois de horas satisfazendo o mês separados eles se depararam com a verdade de que aquilo não deveria mais acontecer. Já havia se passado dois anos, afinal de contas.

Eles se olharam e se olharam por horas. Decidindo internamente se o silêncio era suficiente. Sim, era.

Ela se levantou da cama e foi ao banheiro. Ele ficou deitado pensando em algo que deveria pensar para pensar, caso ela perguntasse no que ele estava pensando. Mas a resposta era desconhecida e, qualquer que fosse o assusto discutido, seria frio e barulhento demais perto do calor calado do momento.

Ela respirou fundo. Mais um dia 13 acaba. Mais uma promessa não cumprida. O que acontece conosco? Quando aquilo iria acabar?

Ele, do quarto, suspira de volta. Quem sabe quando nós nos apaixonarmos verdadeiramente por alguém. Aí esqueceríamos um do outro. Pelo menos um de nós não estaria aqui dia 13 para quebrar a rotina. Uma vez quebrada, na teoria, as coisas se facilitariam.

Ela sai do banheiro e os dois se encaram e sentem aquele furor de fazer algo grande. Ou ir embora correndo ou declarar-se apaixonadamente. A esse ponto, ambas as coisas seriam grandiosas e, ao mesmo tempo, ridículas.

Ela abaixa os olhos. Não, isso tem que terminar agora, pensa.

Ele abaixa os olhos. Não, isso tem que terminar agora, pensa.

E assim, sem nenhuma palavra trocada depois de suores trocados, eles

ventiram suas blusas, suas calças, sentaram à mesa, tomaram a última

cerveja, juntos, fumando cigarros e, sorrindo, sairam do quarto.

Ela soltou uma única lágrima e disse: "Até dia 13". Ele respondeu

acanhado "Até!" e partiram para rumos opostos.

Nenhum dos dois jamais voltou àquele lugar..

E os suores nem sequer brotaram mais daqueles corpos. Não com a mesma intensidade. Com o mesmo destino.

Talita Tonso
Enviado por Talita Tonso em 15/02/2011
Código do texto: T2792585
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