O poeta Quintana, meu salvador
O Poeta Quintana, meu salvador
Essa crônica, a turma minimalista vai gostar. Não propriamente pelo conteúdo, cujo assunto é muito pessoal e bobo, mas pelo texto curto e rasteiro. A turma não tem mais tempo pra ler, compreendo...
É o seguinte: volta e meia me assusto com a confusão reinante no mundo e os tumultos e brigas generalizados. Com certeza, estamos vivendo em plenitude os tempos bíblicos da torre de babel.
Passei o fim de semana feliz com o surgimento da democracia no Egito.
Nesta segunda-feira, porém, as notícias nos dão conta que o pessoal dos direitos humanos já estão à caça do ex-ditador e vão começar a procurar aquela tal de verdade (usei a concordância verbal no plural para dar ênfase, já que essa turma é numerosa mesmo), que eles gostam tanto. Já vão iniciar aquele maniqueísmo: bem x mal. E a turma do "bem", infelizmente, pode acabar resvalando para a matança, fuzilamento, paredão, etc., etc.
Será possível que não tem outra maneira de endireitar o mundo? Teremos o desprazer de assistir os excessos?
Antes que seja alvo de pedradas e sapatadas, vou lhes contar uma do grande Mario Quintana, ou melhor, duas, porque vou encerrar rapidamente com ele.
Quintana foi muito criticado pelo seu lirismo e por não ser um poeta engajado, principalmente por ocasião da segunda guerra mundial.
Vejam a resposta que ele deu, cujo teor extraí do livro “Ora Bolas”, de Juarez Fonseca: “ Meu caro James: Li com espanto e apreço o ensaio que V. remeteu para a Província de São Pedro e no qual tem a bondade de avisar-me de que tomei o bonde errado em poesia. Apressei-me então em ver o que têm feito os poetas que, segundo V.,tomaram o bonde certo. Eis dom Pablo Neruda: publica ele, numa revista nossa, uma ode à sra. Mãe de Luiz Carlos Prestes. Abro outra revista e surge-me o sr. Camilo Jesus com um poema para Anita Leocádia, filhinha do sr. Luiz Carlos Prestes.
Desconsolo-me. Vejo que cheguei tarde, muito tarde. Agora, só me restam as tias do sr. Luiz Carlos Prestes”.
Dizia Mario Quintana que uma boa causa jamais salvou um mau poeta.
Nestas horas de desalento com a humanidade costumo me lembrar do misterioso chinês Mister Wong, fantástica criação do Quintana, no seu livro Sapato Florido:
“Além do controlado Dr.Jekyll e do desrecalcado Mister Hyde, há também um chinês dentro de nós: Mister Wong. Nem bom, nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo, neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekyll, muito compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca um olho e a alma no decote da senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na plateia...
Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!
Tenha certeza, meu querido poeta Mario Quintana, neste mundo louco, estou a cultivar, como nunca, o meu Mister Wong.
É o que me salva!
O Poeta Quintana, meu salvador
Essa crônica, a turma minimalista vai gostar. Não propriamente pelo conteúdo, cujo assunto é muito pessoal e bobo, mas pelo texto curto e rasteiro. A turma não tem mais tempo pra ler, compreendo...
É o seguinte: volta e meia me assusto com a confusão reinante no mundo e os tumultos e brigas generalizados. Com certeza, estamos vivendo em plenitude os tempos bíblicos da torre de babel.
Passei o fim de semana feliz com o surgimento da democracia no Egito.
Nesta segunda-feira, porém, as notícias nos dão conta que o pessoal dos direitos humanos já estão à caça do ex-ditador e vão começar a procurar aquela tal de verdade (usei a concordância verbal no plural para dar ênfase, já que essa turma é numerosa mesmo), que eles gostam tanto. Já vão iniciar aquele maniqueísmo: bem x mal. E a turma do "bem", infelizmente, pode acabar resvalando para a matança, fuzilamento, paredão, etc., etc.
Será possível que não tem outra maneira de endireitar o mundo? Teremos o desprazer de assistir os excessos?
Antes que seja alvo de pedradas e sapatadas, vou lhes contar uma do grande Mario Quintana, ou melhor, duas, porque vou encerrar rapidamente com ele.
Quintana foi muito criticado pelo seu lirismo e por não ser um poeta engajado, principalmente por ocasião da segunda guerra mundial.
Vejam a resposta que ele deu, cujo teor extraí do livro “Ora Bolas”, de Juarez Fonseca: “ Meu caro James: Li com espanto e apreço o ensaio que V. remeteu para a Província de São Pedro e no qual tem a bondade de avisar-me de que tomei o bonde errado em poesia. Apressei-me então em ver o que têm feito os poetas que, segundo V.,tomaram o bonde certo. Eis dom Pablo Neruda: publica ele, numa revista nossa, uma ode à sra. Mãe de Luiz Carlos Prestes. Abro outra revista e surge-me o sr. Camilo Jesus com um poema para Anita Leocádia, filhinha do sr. Luiz Carlos Prestes.
Desconsolo-me. Vejo que cheguei tarde, muito tarde. Agora, só me restam as tias do sr. Luiz Carlos Prestes”.
Dizia Mario Quintana que uma boa causa jamais salvou um mau poeta.
Nestas horas de desalento com a humanidade costumo me lembrar do misterioso chinês Mister Wong, fantástica criação do Quintana, no seu livro Sapato Florido:
“Além do controlado Dr.Jekyll e do desrecalcado Mister Hyde, há também um chinês dentro de nós: Mister Wong. Nem bom, nem mau: gratuito. Entremos, por exemplo, neste teatro. Tomemos este camarote. Pois bem, enquanto o Dr. Jekyll, muito compenetrado, é todo ouvidos, e Mister Hyde arrisca um olho e a alma no decote da senhora vizinha, o nosso Mister Wong, descansadamente, põe-se a contar carecas na plateia...
Outros exemplos? Procure-os o senhor em si mesmo, agora mesmo. Não perca tempo. Cultive o seu Mister Wong!
Tenha certeza, meu querido poeta Mario Quintana, neste mundo louco, estou a cultivar, como nunca, o meu Mister Wong.
É o que me salva!