O Vazio da Vida, a Mídia e Outros Absurdos
Participava ontem do concurso do IBGE que vai contratar agentes censitários para trabalhar no censo 2010 e numas das questões da prova de português havia uma crônica falando sobre a falta de sentido da vida nesses “tempos modernos”. A autora dizia que estamos abreviando tudo, desde a forma de escrever até as relações interpessoais. Segundo ela a vida está ficando miserável tanto materialmente quanto, digamos espiritualmente ou intelectualmente ou qualquer coisa do gênero. E essa miséria – eu chamo de intelectual – provoca segundo a autora, a abreviação de sentimentos, das conversas, da convivência, do ócio.
Dizem que essa introspecção das pessoas é provocada pela falta de tempo, pois se trabalha muito e tem-se pouco tempo para “prosear”, “ociar”, cuidar de filhos e outras coisas sem fins lucrativos. Acho isso uma grande baboseira, confusão do capeta (lê-se mídia) para confundir a cabeça das pessoas, como disse Ariano Suassuna no Alto da compadecida. Concordo que alguns executivos realmente têm uma jornada longa de trabalho, mas executivos formam uma parcela ínfima dos trabalhadores, a maior parte das pessoas trabalha oito horas por dia. O que ocorre é que a vida delas está cada vez mais vazia de sentido por que o “capeta”, “o grande satã” lhes diz todos os dias, com sua programação idiotizante que o mais importante é você, o seu compromisso é única e exclusivamente consigo próprio, os outros que se danem. E diz-lhes mais: para ser bem quisto, bem visto, bem sucedido o indivíduo deve ter carro, moto, máquina digital, notebuque e o diado! Livros?!!! Só se for de auto-ajuda ou então do Paulo Coelho! E as pessoas vão consumindo e suas vidas vão ficando cada vez mais vazias.
Não acho que o problema é falta de tempo, acho que as pessoas fizeram a escolha de se trancarem em casa. Para que conversas com visinhos se têm a televisão? Para que ler livros se têm a internete? Alem disso, o diálogo, o contato pessoal exige exposição e ninguém quer se expor!
O problema disso tudo é que esse isolamento, esse individualismo causa uma grande desagregação e atomização da sociedade. Não há elo entre as pessoas, não há grupos de interesses recíprocos a não ser o grupo dos empoderados economicamente (elite). Os movimentos sociais não cativam mais militantes. Assuntos coletivos são evitados. Parece que todos estão muito contentes com o que têm, mesmo quando não têm nada. Estamos totalmente alheios a tudo e nem mesmo as imagens na televisão de um político recebendo propina de empreiteiras é capaz de provocar a indignação geral. E se um grupo relativamente insignificante resolve protestar, manda-se a polícia para restabelecer a ordem. Mas de que ordem falam? Já sei. A ordem do deixa tudo como está, do não se envolvam, não seja rebelde, seja um bom pai de família trabalhador! É isso que a mídia enfia todos os dias em nossas cabeças e nós, como zumbis... não, acho que comparar-nos a zumbis é uma ofensa a eles pois, ao menos têm sede de sangue e fome de carne, não são passivos e essa sede os faz desfazer a ordem, criar barulho, assustar todo mundo. E nós, temos sede e fome de que? Mas voltando à mídia, vi uma matéria no jornal da Recorde Nius mostrando a agressão sofrida pelo mafio... , digo, primeiro ministro Italiano Silvio Berlusconi. Depois de narrar os fatos e como se deu a ação do “agressor”, a repórter disse a seguinte pérola: “não se sabe qual a causa da agressão”. É realmente difícil saber qual a causa da “agressão” já que Silvio Berlusconi é um ilibado governante, todos os italianos deveriam estar felizes com o governo dele, não têm motivo algum para quebrar-lhe a cara como fez o “agressor” que, aliás, faz tratamento psiquiátrico! É, deve ser um louco!
Eu poderia a essa altura do texto contra-argumentar – para não ser chamado de radical, rebelde, contraventor ou louco quem sabe – e dizer que violência não adianta por que só gera mais violência, que o confronto deve ser pacífico, apenas nas idéias, etc. Mas não vou fazer isso e me chamem de radical, rebelde, contraventor ou louco (até parece que alguém vai se dar o trabalho de ler isso, muito menos comentar!) quem quiser. Acho mesmo é que as pessoas deviam “enlouquecer” e sair quebrando a cara de Fernando Gomes, Geraldo Simões, Nilton Azevedo, Jacques Wagner, Jose Roberto Arruda, Edir Macedo, don Ceslau e de todos esses políticos salafrários, golpistas, ladrões, embusteiros assassinos e omissos. Quem sabe assim eles pensariam duas vezes antes de meter a mão no dinheiro público, quem sabe dessa forma eles temeriam o povo. Sim, pois é o “povo que deve ser temido pelo governo e não o contrário” (Filme V de Vingança).
14/12/2009