A ÁRVORE ESCOLHIDA

Em meio a um sítio tão encantador, repleto de árvores frondosas, frutíferas, majestosas e repletas de flores, a moça escolheu uma isolada, que ficava afastada das outras e que tinha uma forma curiosa, a um só tempo imponente e recatada.
Era um cáctus de aproximadamente 3 metros de altura, tronco vertical e muitíssimos galhos que brotavam uns dos outros num desenho assimétrico que a fazia recordar escalas musicais dissonantes em compassos de difícil execução...
De imediato, surpreendeu-se com sua aparência exótica, e ao aproximar-se, assustou-se com a infinidade de espinhos que a árvore dispunha por sobre as folhas grossas, acinzentadas e que apontavam em todas as direções.
Ainda assim, aproximou-se e com todo cuidado, apresentou-se, disse que a achava bonita e pediu que lhe deixasse ficar ali algum tempo a admirá-la.
Tocou de leve em uma de suas folhas, para não se machucar, percebendo que entre os espinhos o toque era macio e agradável.
Ainda mais curiosa, percebeu uma folha mais antiga, já debilitada pelo tempo e que partia-se com facilidade ao toque, revelando em seu interior, um líquido branco, viscoso e abundante.
Levou-o para junto do nariz e sentiu de imediato seu frescor natural e um aroma gostoso, cheirinho vital de natureza.
Era a seiva da vida da árvore!
A moça ficou tão impressionada com essa descoberta que se emocionou e continuou conversando com o cáctus, agradecendo a oportunidade que a árvore lhe dava em deixar-se conhecer assim, em sua essência.
Num impulso de alegria, fez um movimento espontâneo que a levou a ferir-se em seus espinhos, e instintivamente, soltou um grito de dor.
O grupo que a acompanhava de perto e do qual ela havia se separado um pouco, ouviu o que mais parecia um chamado de perigo e 4 ou 5 pessoas correram ao seu encontro para prestar-lhe socorro.
A moça enrubesceu, sentindo-se envergonhada por chamar assim a atenção para si, quando na verdade, só havia se afastado para ficar um pouco sozinha com seus sentimentos.
-Saia de perto dessa árvore horrível, ela é perigosa!
-Não! Gritou a moça, com um tom de voz mais firme do que lhe era peculiar..
_ O que há com você, tornaram a dizer, não vê que essa coisa esquisita é cheia de espinhos e acabou de te machucar, sua tonta!
_ Ela é um Cáctus, não uma coisa esquisita...e eu não sou nenhuma tonta, eu sou como ela, como essa árvore...talvez esquisita por fora...mas cheia de vida por dentro...
_???
A moça continuou a explicar, a seu modo, a percepção que estava tendo naquele momento, dizendo que sentia-se assim, como o Cáctus: áspero por fora, mas frágil por dentro e que sua aparente frieza era apenas uma defesa ao burburinho dos ambientes sociais, já que era uma pessoa silenciosa por natureza.
As pessoas que agora a rodeavam continuaram com uma expressão de ponto de interrogação em suas feições, mas mantiveram um silêncio reverente sem nem ao menos saber ao certo do por quê daquele solene momento.
Se pela moça, se pelo cáctus...
O certo é que aquela imagem ficou gravada dentro de cada um deles por um longo instante.
O instante de captar num insight, por um momento, a natureza de uma moça e a humanidade de uma árvore...

Lídia Carmeli
Enviado por Lídia Carmeli em 13/02/2011
Reeditado em 12/06/2011
Código do texto: T2790303
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