Humanidade



Procuro seriamente em mim aquela humanidade pura e utópica que muitos apregoam e apenas encontro uma natureza mental complexa, parte genética e parte fenotípica, mas sempre imanente e natural.
 
Olho o mundo e também não percebo nenhuma humanidade transcendente, de algum criador maior, ou no mínimo percebo apenas a possibilidade, como pensava Epicuro, que deus ou deuses que criaram o mundo, logo depois partiram em férias ou perderam o interesse pela criação, como crianças que abandonam seus brinquedos, tão logo descubram algo mais interessante.
 
Devemos lembrar que Epicuro viveu a mais de dois mil e duzentos anos, e o mundo já era perverso, injusto e desumano, onde o sofrimento e a fome, as guerras e as mortes brutas já inundavam este mundo. Ele costumava dizer que bastava olhar com o mínimo de atenção e veríamos a maldade humana agindo de forma individual ou coletiva, onde a fome matava crianças aos milhares, onde a divisão e a segregação social e religiosa atuavam soltas.
 
Sou materialista, e não ceio em deus ou em deuses, mas concordo com Epicuro que se eles criaram o mundo, logo o abandonaram.
 
Já que nossa natureza evoluiu construindo uma mente aética, preparada apenas para sobreviver, temos então um trabalho bastante árduo, qual seja o de convencer-nos que é necessário, para dar dignidade social a este mundo, que nos vistamos conscientemente de vontade e de energia para fazermos com que a humanidade que tanto nos arrogamos a defender e a acreditar que temos, possa crescer baseada na decisão de que se somos importantes, somos primeiros seres sociais e que só seremos verdadeiramente importantes quanto mais dignificarmos a humanidade e a vida social e natural que nos cerca. A ética humana tem que refletir o direito a vida e a dignidade humana, livre de preconceitos, tabus, dogmas ou revelações, limitadas tão somente pelo direito a felicidade coletiva, a igualdade social e política, onde cada ser humano seja importante pela vida que carrega, mas jamais possa ser, por si só, mais importante que a coletividade e a sociedade que integra.

 
Seria louco se não percebesse a vontade sincera de alguns poucos em aflorar sua verdadeira humanidade, aquele sentimento que nos torna únicos neste reino animal. Mas são ainda muito poucos estes abnegados. Devemos nos unir e somar com eles, nos despindo de nossos interesses pessoais, de nossas vaidades e de nossa arrogância própria de que somos o auge da evolução, e com humildade e coragem, passo a passo, construir um mundo mais digno social, e coletivamente, onde todos e cada um sejam importantes pela importância que o social adquira.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 13/02/2011
Reeditado em 13/02/2011
Código do texto: T2789515
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.