A POESIA PERFEITA DE UMA CRIANÇA

O pôr do sol é tão lindo, chega o mar fica doce... Esta frase foi pronunciada por A. E. S. P, uma criança de apenas 05 anos de idade, para a tia, quando viu, pela primeira vez, o pôr do sol na praia. O deslumbramento que a cena lhe causou foi tão grande que ela usou uma figura de linguagem que, no mínimo, dotou-a de uma sensibilidade extremamente perceptiva, pois dos dois versos pronunciados ela tirou a magia de dizer, poeticamente, tudo aquilo que estava inserido na paisagem que a fantasia, vista com os olhos da emoção, deve ter, também, contemplado o olhar de devaneio de todos aqueles que estavam ali vendo o dueto entre o Sol e o Mar.

Difícil de se perceber? Não, claro que não. A beleza descrita está na simplicidade e na forma inocente como ela foi dita. A natureza, por si só, já é bela e não precisa de nenhum adjetivo para torná-la interessante aos olhos de quem a vê. No entanto, a singeleza das frases eternizou o belo do fenômeno sem que ao menos fosse preciso descrevê-lo como tal, como normalmente fazemos quando queremos enaltecer alguma coisa criada por nós.

A percepção da criança se deu por ela notar que, naquele instante, ao pôr do sol, as águas do mar ficaram mansas, e apenas abençoaram as réstias avermelhadas que o Sol ia, calmamente, estendendo por sobre o leito, como uma espécie de manto que cobre a imensidão azul do Reino de Netuno.

A doçura, neste caso, para ela, está relacionada, de certa forma – e pela inocência de sua expressão –, às coisas boas que ela conhece e gosta, principalmente, as de gostos doces, e que, de tal maneira, ao exprimir-se conotativamente, ela eliminou, de sua mente, o sabor salgado que a água do mar – talvez há poucos instantes – lhe tenha feito perceber em sua boca. Por isso, a sublimação, aos seus olhos, do espetáculo realizado pelo Sol. As palavras proferidas tiveram o entusiasmo de uma fantasia criada, naquele instante, para descreverem o que a sua mente gostaria de trocar.

Quando a sua tia me falou, encantada, sobre a bela frase, encantei-me também. Fiquei a imaginar como seria o mundo, para todos nós, se ele fosse sempre visto assim, em todas as suas nuanças, de forma tão doce. Talvez, se o mundo fosse governado por crianças, nós adultos aprendêssemos a dar valor as coisas doces da vida, dentre elas, a vida em sociedade. Acho até que saberíamos, enfim, que somos todos iguais e, por isso mesmo, com os mesmos direitos e, sobretudo, com os mesmos compromissos de cada vez mais, pelo menos, procurar preservar o planeta em que vivemos.

Um dia eu vi, maravilhado, um pôr do sol. Porém, a beleza que eu vi não pude descrevê-la em apenas duas frases. Não consegui. Foi preciso uma lauda e meia para que eu pudesse dizer que o mar fica doce quando o sol se esconde atrás dele. Entretanto, aquilo que eu não consegui dizer, consegui ver. Vi, por exemplo, os casais se abraçando, em um perfeita comunhão, como se naquele momento eles estivessem jurando amor eterno diante de Deus. Agora eu sei que era Deus quem estava ali. Era Ele sim, pois a mansidão das águas era, na verdade, a Sua benção que vinha sendo carregada pelas ondas empurradas pela brisa suave do entardecer. E essa benção chegou até nós. E todos nós, ali, ficamos mais irmãos. Senti, naquele momento, que o encarnado em forma de rastro, deixado pelo sol que ia sumindo no horizonte era, na verdade, a renovação de Sua aliança, a cada entardecer, para com o seu povo. E que, por ser cor de fogo simbolizava, justamente, o amor – feito uma paixão que se revigora a cada dia – que Ele sente por todos nós.

Por que, então, não é possível mudar nossos conceitos? Por que não podemos deixar a vida transcorrer mais lentamente – assim como a mansidão das águas do entardecer –, sem ser preciso essa busca desenfreada pela ganância, pelo poder, pelas riquezas, por uma competitividade exacerbada tão prejudicial à natureza e a quem dela se abastece harmonicamente? Por que exaurir os recursos naturais se a vida humana depende justamente do equilíbrio de suas fontes? Será que nós não entendemos que as futuras gerações precisam de um mar mais doce agora, para elas poderem ter oportunidades de virem ao mundo? Ou será preciso sempre a voz de Deus, através de uma criança, para que nós apreendamos que as águas do mar ficam mais doces porque doces são os caminhos da paz, da solidariedade, da comunhão, da preservação, do coletivismo?

Talvez o que não compreendamos é que os versos ditos de uma forma tão lírica – pela boca de uma criança – seja o jeito que Deus encontrou para nos dizer que a vida pode ser doce sim, basta apenas olhá-la com o olhar de uma criança e tudo se transformará...


 


Obs. Imagem da internet









 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 13/02/2011
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T2789451
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