As pessoas que estão sempre certas

Calma, caro leitor. Eu sei que a primeira coisa que lhe veio a cabeça foi que não existem pessoas que estejam sempre certas em tudo, eu também concordo. Acontece que estas pessoas não sabem disso, e não sabem o quanto fazem mal às pessoas que estão ao seu lado. Sócrates, um dos maiores filósofos que já existiu deixou-nos a máxima “tudo que sei, é que nada sei”, e olha que ele sabia das coisas, é considerado o pai da dialética, e um grande pensador. Porém, pessoas muito mais ínfimas e pobres de pensamento não têm a humildade de comungar deste pensamento, que na verdade torna-se parte da própria consciência. Pensamentos por si só não são prejudiciais, a consciência é o guia e o limite das atitudes que refletem os pensamentos, mas as pessoas que sempre acham que sabem tudo, que estão sempre certas, que detém poder de julgar e punir seus semelhantes, não conhecem este limite.

As “pessoas que estão sempre certas” não conseguem aprender com ninguém que esteja a sua volta, mesmo que em casa tenha ótimos exemplos de como tratar as pessoas, de como conversar, como ponderar, ser tolerante, ter temperança, mesmo assim, ignora tudo e segue seu guia errado, sua consciência que a aponta como a “pessoa que está sempre certa”. O pior é ver estas pessoas professarem um radicalismo religioso, julgando-se as pessoas mais santas do mundo, tão santas que podem detectar pecadores, e puni-los. A pena mais branda que elas impõe é a segregação. Mas esquecem, que Jesus deixou-nos o ensinamento que quem precisa de compaixão são justamente estas pessoas que estão um pouco fora do caminho, Ele nos deixou a lição de evangelizar, de trazer para o bem, para o caminho correto aquelas pessoas que se afastaram da luz, quer seja o motivo que for. Isto não é tarefa fácil, é certo, mas amar nunca foi fácil. Só é fácil amar os que nos fazem bem, os que nos fazem mal instigam a revolta, a ira e a vingança. As “pessoas que estão sempre certas” julgam as outras pessoas de forma errada, porque vê todas as outras como erradas, no mundo perfeito de seu inconsciente, onde somente ela está “sempre certa”.

O que me conforta em relação a estas pessoas é que existe outra máxima “nada dura para sempre”, ou seja, um dia pode ser que este tipo de pessoa acorde para a realidade e veja quanta humilhação impingiu aos outros, quanta desavença, quanta acusação infundada, quanta cobrança, quanta briga e tudo mais de ruim foi capaz de gerar às pessoas ao seu entorno, que olhe para trás e sinta o pior dos sentimentos dos cegos de consciência: o remorso. REMORSO é o sentimento que nos assola a alma, em se reaver a consciência justa, humilde e fraterna, que nos faz refletir sobre todos os nossos atos e sentirmos vergonha por atitudes tomadas e que magoaram ou prejudicaram outras pessoas, mas tudo isso é coroado pela dor de saber que não se pode voltar no tempo – embora este seja o maior desejo de quem sente remorso – para poder consertar as coisas, e tentar agir diferente naquelas situações tão prejudiciais a outrem. Mas o tempo não volta. O grande problema do remorso é esse, a vida continua pra frente, e nos obriga a conviver com as conseqüências de atitudes errôneas do passado.

As pessoas “que estão sempre certas” um dia acordarão, e verão que na maioria das vezes estavam erradas e que suas atitudes magoaram muito as pessoas que só lhe queriam bem. Inevitavelmente terão de conviver com o remorso. Porque é isso que a vida nos ensina, termos consciência de nossos atos, valorizar as pessoas que nos amam, saber que erramos, que somos falhos, somos humanos, e que um dia precisaremos da misericórdia e compaixão que um dia negamos, injustamente.

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