Meu livro é um fracasso de vendas
Winston Churchill, estadista britânico, afirmou que “o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”. Não nasci pra ser vendedor. Escrevo livros para serem guardados em estantes recônditas para um dia ressurgirem como obras de arte, como aqueles livros guardados pelos monges do século XIII, que ficavam tocando punheta nos conventos e tomando conta de manuscritos de tempos imemoriais.
Meu projeto de vendas do livro “A Voz de Itabaiana e outras vozes” seria elencar as pessoas citadas nas crônicas e oferecer a obra a essas personagens. O problema é que 90 por cento delas já pegou o andar de cima, as famílias me vêem como forasteiro, não coabito mais na casa. Conto histórias de uma Itabaiana que não existe mais. Até o rio Paraíba do poeta Eliel José Francisco, nadador feito piaba nas cheias de antigamente, não emociona mais a nova geração. O pobre rio desprezado e agredido não tem mais seu poeta, que hoje vive em Paulista, no Pernambuco, e só visita suas águas em sonho.
Na bandeira de Itabaiana, a faixa central branca é símbolo da areia do rio Paraíba. Depois da ação criminosa e predatória de extração de sua areia, nossos ilustres vereadores devem redigir e aprovar lei modificando a cor da bandeira. Qual é a cor da vergonha, da desonra e da ignomínia?
Mas voltando ao meu livro, o produto é bom, modéstia à parte. Foi patrocinado pelo Banco do Nordeste do Brasil, e vocês sabem que banqueiro não aposta em mercadoria ruim. O outro livro, “Biu Pacatuba”, muito mais modesto, ganhou um prêmio nacional na categoria literatura de cordel, oferecido pelo Ministério da Cultura, o Prêmio Patativa do Assaré. Por aí se vê que meu produto é consistente, mas falta o tal do marketing.
Meu agente literário chama-se Biu Penca Preta, o que não é nada animador. Confiando na capacidade de convencimento que têm as mulheres bonitas, contratei a gata aí de cima, Dolores Sierra, para fazer reclame do livro. Entretanto, nem isso funciona.
O escritor Plínio Marcos contando como vendia seus livros:
“Não tem tu, vai tu mesmo. Era assim. Eu ia vendendo meus livros nas ruas, nas feiras. nos restaurantes. Um pouco aqui, um pouco ali. Batendo papo, contando histórias e faturando uma grana. Sabe, não é fácil vender livros em terra de analfabeto com fome.”
Só tenho uma vaidade: eu escrevo somente o que quero, quando quero. É uma das raras coisas na vida sobre a qual tenho absoluto controle e independência. Se depois alguém quiser pagar para consumir esse amontoado de ideias, tudo bem.
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