Shopping
O odor acebolado da comida e o cheiro oreganizado das pizzas denunciavam a proximidade da praça de alimentação. Paro por um instante, sento e observo cada passante. Saltos-altos em um desfilar altivo, sandálias de dedos em um arrastar preguiçoso, bigodes oligárquicos (à moda do Kayser), carecas assumidos, perucas a encobrir vergonhas capilares, alto(a)s, baixo(a)s, magro(a)s, gordo(a)s, cinturas de violões, musculosos... A fauna era variada. Observo as lojas com seus offs, promoções, sales, com ares um tanto décadence avec elegance, num tom de glamourização oco, xoxo, insípido.
O vai-e-vem de bolsas e penduricalhos nas orelhas e pescoços (brincos, piercings, colares, etc) - o consumismo à vista ou parcelado no cartão de crédito. O ter imiscuindo-se no ser em pleno século XXI. Mas o problema não está no tempo - espectador de luxo da história mundana - e sim no repetir previsível dos tipos, nos pendulares erro, na falta de Filosofia das pessoas. Não há uma teleologia, nem princípios, mas um imediatismo drive thru e principalmente numa fetichização da aparência: uma valorização exacerbada do ser.
O levanta-e-senta dos bancos, o entra-e-sai das lojas, às vezes apenas pelo hábito, sem nada adquirir: semelhando o T.O.C (transtorno obsessivo compulsivo) proporcionado, muitas vezes por vidas vazias e sem um norte, sem um princípio que os guie. Mero espetáculo físico-mecânico que, talvez, fosse melhor explicado pelos fenomenologistas.
A mim restou esta impressão vívida de que as pessoas marcham, vivem, sem saber o porquê ou para onde vão.
(Danclads Lins de Andrade).