Essência
Camouflage. Um tremor que assalta meu peito sem pudor. Minha pele é arrastada por destinos inevitáveis, queimando-se discretamente. Desloco-me com todos os mistérios no olhar, sigo calada e observadora. Sou fantoche da vida, teatro da mãe-maior que manipula minha conduta e minhas crenças, agindo de improviso e astutamente, como uma gatuna. Submeto-me constantemente ao ver seu cetro de eternidade sendo fincado no chão. Abaixo a cabeça, deixo-me ser levada com o vento.
Quanto mais compreendo a humanidade, menos quero compreendê-la. Quanto mais ascendo, mais as vicissitudes se estreitam em meus caminhos, mais a face mórbida da existência busca se segurar em meus pés. Pergunto-me se vivemos em um eterno jogo de provações e resistência, cuidadosamente orquestrado pelo universo.
Bloqueio minha visão com as mãos e deixo-me sofrer a dor que a razão imprime em minh’alma; canto ao silêncio com uma mudez expressiva; gesticulo frenética, imóvel na escuridão. E enquanto pairo, ofegante, observando o nada, no fundo de meus olhos cultivo o desespero da compreensão e o ódio da inanição.
As horas, os dias e os anos passam por mim e tocam minha matéria. Passam por mim caminhando rapidamente, chocando-se como uma multidão. E em meu corpo a melodia do tempo entranha-se à minha pele, aos meus órgãos e aos meus sentidos; é o impacto da multidão fazendo-me cair de joelhos no asfalto. Eu me levanto sem olhar para os lados, sem praguejar, embora suando sangue frio. Sigo meu intento impassível e satisfeita, pois em mim também perpetua-se a Verdade, em mim também convivem multidões! Apesar da loucura de ser, sinto-me plena!
Em mim residem Amor, Paixão e Arte entrelaçados e é isso, e somente isso, a Quintessência e a harmonia de meu ser.