Garoto Férias Ideal
Primeiro dia de férias. Dezoito horas e trinta minutos. Faltavam cinco minutos para aula começar. Nada de professor. As pessoas todas a se observar. Sem saber muito o que fazer coma as mãos, peguei uma revista e sentei numa mesa junto ao bar para fazer uma leitura. "Boa Forma", péssima leitura. Dietas, dietas e mais dietas; corpos estereotipados, idealizados. A leitura por vezes se confundia com as inúmeras falas, porém sempre o mesmo assunto:"Body Shape".
De repente, ouvi uma voz diferente das que estava habituada a ouvir e que me chamou a atenção. "Olá, meu nome é Terence, eu sou o novo professor". Um rapaz de de um metro e oitenta aproximadamente, pele morena, sorriso largo, traços fortes, "boa forma", ideal. Taí, lembrei da pergunta que um aluno me havia feito tempo atrás, querendo saber como seria o "garoto ideal" para mim. A tempo tentava construir mentalmente o estereótipo deste ser. Pois ali poderia estar a figura idealizada.
Estava tão absorvida em meus pensamentos que nem percebi os minutos passarem. Só me dei conta quando fui invadida pelo silêncio do saguão. Dezoito horas e quarenta e cinco minutos. A aula já havia começado.
Situação difícil. Professor novo, primeira aula, metodologia nova, novos exercícios; só isso já causa um certo receio e ainda chegar atrasada. "Tá louco", pensei. Entrei. Todos olharam para a porta. Dirigia-me ao fundo da sala (postura normal de alguém que não quer ser observado) quando ouvi: "Ei, você de 'top' vermelho que chegou agora, como se chama?" Neste momento, me sentia o próprio "top vermelho" e confesso ter esquecido meu nome por alguns instantes, mas antes mesmo que abrisse a boca para falar, alguém respondeu por mim. O professor então se apresenta, dizendo "Seja bem vinda, eu sou o novo professor". Sem pensar muito, respondi "Então seja bem vindo você e boa sorte".
Aula perfeita, contagiante, diferente das que já estava acostumada.Uma hora pareceu um minuto. Ideal. E assim foram todos os dias das férias. Conhecemos mais o professor através de suas falas sempre precisas, suas atitudes sensatas, sua postura diante de todos. Não deu "uma mancada" sequer. Não só um "boa forma", mas um "cara" de conteúdo. Ideal...até aparecer com a camisa do Internacional. Que decepção! Conclui que nada é perfeito. O que é perfeito pra mim, pode não ser pra você e vice versa. Depende do olhar de cada um, de uma visão muito particular e subjetiva. E é por isso que talvez eu esteja casada a tanto tempo com um ideal de homem que "aos meus olhos" tem mais qualidades do que defeitos. E também, porque reconhecemos que não somos perfeitos.
E o professor? Ah, "o garoto quase perfeito"? O que eu sei é que foi ele que também tornou as minhas férias ideal.
Texto construído em dezembro de 2006.
Pois eh galera, tô de volta procurando inspiração. rsss