O herói de todos, que não conhecemos...

Hoje de tarde, lembrei que era o último dia para pagar umas contas, caso perdesse o prazo, pagaria uma multa. Saí rapidamente de casa peguei um ônibus e logo em seguida um moto-taxi, para chegar ao trabalho do meu pai e pegar meu carro que estava com a conta e o dinheiro dentro. Tive que fazer isso tudo muito rápido pois já era por volta de 4 horas e as casas lotéricas fechavam as 5, pois bem pegando o carro sai dirigindo rapidamente até o local, pensei ser mais um dia daqueles comuns, típicos e rotineiros. Chegando as casas lotéricas sinto dificuldades de estacionar o carro e já fico nervoso, em seguido procuro as 3 contas e meu dinheiro... mais um acesso ao nervosismo, vejo que calculei errado o dinheiro e que só dava pra pagar uma das contas, e me sobravam algumas moedas de 1 real, então pensei nervoso "Não é possível que vá me faltar dinheiro pra pagar essas míseras contas, não acredito "@#%4!!@*&". Desci do carro muito irritado e logo vejo uma fila relativamente grande, e apenas duas cabines funcionando, e escrito de todo tamanho "FILA ÚNICA", entretanto enquanto eu e mais algumas pessoas esperavamos na verdadeira fila, outras pessoas espertamente esperavam em outra que não deveria existir, entretanto era menor. Muito irritado com aquela situação, fiquei calado, mas sentindo uma irritação profunda me pairar a pele, e uma raiva, raiva gigantesca, raiva do trânsito que tinha pego, raiva da falta de dinheiro, raiva do dia do vencimento, raiva da fila, raiva das pessoas, raiva da cara dos atendentes da loteria, com cara de "puta merda eu tenho que atender esses troxas", então surge um senhor de idade de pele escurecida, queimada pelo sol, com um cabelo grisalho com a cor de fumaça de caminhão a diesel, uma barba e um cavanhaque da mesma cor muito mal feitos, uma roupa suja, e segurando religiosamente uma sacola pequena num formato quadrado na mão, e algumas moedas que observando vi que eram no máximo de 50 centavos. Este senhor entrou na fila das pessoas que estavam me irritando por não estarem no local correto, embora na hora eu não tenha percebido isto, estava mais impressionado com os pés e os olhos daquele Senhor, os pés pareciam... terem se fragmentado, sujos, unhas quebradas, os chinelos despedaçados, e o olhar... Que olhar era aquele, que trazia sofrimento embora sufocado por um ar de sabedoria e paciência, foi uma experiência unica aquele olhar. Ao observar aquele conjunto de coisas em relação aquele velho, esqueci-me de minha raiva ao mundo, e todos. Me senti controlando uma lágrima. E senti um remorso por todos os meus sentimentos anteriores. Então chegou a minha vez no caixa, desconcentrei um pouco de mim e do próprio velho, que para minha surpresa parecera atrás de mim, acho que ele mudou de fila. Ao pagar a conta me sobraram as tais moedas de um real na mão. resolvi deixar uma no balcão de propósito para analisar a reação do velho... Então fui saindo de repente... "Jovem!..." Virei-me lentamente... e respondi "Senhor...?" e o velho me falou "Esqueceu o seu dinheiro, pegue..." então peguei meu dinheiro e fui embora... Segundos demoraram esta ação. Porém não conheço aquele velho, nem sei nada de sua vida, somente li o seu olhar na hora que me devolveu o dinheiro, que dizia "Tive tantas oportunidades de me dar bem na vida e não as fiz rapaz, por causa de meus príncipios, não será uma moeda de 1 real que irá me fazer mudar depois de velho e mesmo estando muito necessitado..." naquele momento em milésimos de segundo me fui tentado a dizer "pegue fique para o senhor", mas isso seria uma enorme demonstração de quanto não entendi a mensagem de um herói. A ação e aqueles olhos estavam com mais cara de querer mostrar dignidade, e sua busca, do que simplesmente necessitar ficar com 1 Real, foi hoje e talvez aquele velho que me abrira os olhos para esta importante idéia, A DIGNIDADE tão querida e tão negligenciada...

Ao Herói de todos, mas que talvez nunca conheceremos...

Leondidas Junior
Enviado por Leondidas Junior em 11/02/2011
Código do texto: T2786160
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