Chibatadas

Quanto mais o tempo passa, mais eu compreendo a grandeza, a profundidade do que Jesus viveu por todos nós. Dando um ar poético aos fatos da vida, podemos é claro enfeitar falando que maior que a dor do corpo é a dor da alma. Mas será? Será que a dor do corpo físico em certas ocasiões ele não supera e muito a dor da alma?

Castigos que algumas pessoas submetem a outros, dilacerando a carne, é uma dor física inesquecível, muito maior do que qualquer humilhação que possa ferir a alma. Somos seres que querendo ou não,tendenciamos a viver mais, a sentir mais, o palpável.

O mundo é uma gigantesca bola de neve, que carrega em seu núcleo um arsenal de bombas prestes a explodir, prontas a serem detonadas a qualquer momento. A crueldade de uns para com os outros chega a ser ilimitadamente irracioal, desumana, sem controle e de um lugar que não pode ser chamado senão de inferno.

Traficantes castigam os que não pagam suas dívidas com chibatadas nas costas e nádegas de deixar feridas abertas, vertendo o sangue. Os presos em determinadas prisões são mutilados, ficando deficientes. Pessoas apanham de muitas formas e quem defere os golpes são frios e distantes, como se tudo fosse só fruto de uma imaginação fértil, como de quem cria um filme para segurar a atenção de quem assiste.

Eu me pergunto e não encontro resposta dentro de mim, que me dê a paz necessária pra ter uma compreensão disso que eu sinto. Quando vejo imagens de pessoas sendo maltratadas, sinto a dor como se comigo fosse. E não sei como codificar dentro do meu cérebro que possa existir seres de carne e osso como eu, que não se colocam no lugar do outro. Que não bunquem outras soluções, sendo dotados de inteligência, e tendo acesso ao que Deus deixou como ensinamento para todo ser que ele criou.

Quanto mais eu envelheço, mais cansado fica meu corpo físico, mais fracos ficam meus sentidos, mas tanto mais aguçada, viva e desperta fica a minha sabedoria . E mais e mais e mais aumenta a minha capacidade de compreender a vastidão da doação de Jesus por todos nós. A cada chibatada que abria feridas em seu corpo, tinha um grito de dor sufocado por nós, em cada prego que perfurava seu corpo, tinha uma esperança de salvação para cada um de nós, a cada espinho que furava a sua têmpora, tinha uma declaração de amor por cada um de nós.

Enche-se de gratidão meu coração, quando fico a imaginar o amor que Jesus espalha pelo universo, na tentativa insistentemente eterna, de nos fazer ver que somos todos feitos do mesmo material, que somos todos filhos de um mesmo pai, que somos todos imperfeitos e vítimas da própria cegueira, da própria surdez.

Quem somos nós para deferir chibatadas, socos, pontapés, seja lá o que for,contra o corpo de alguém, ou mesmo contra nosso próprio corpo?

Se nada de fato é nosso? Se nada de fato nos pertence?

Hoje eu sinto muito mais dores do que sentia outrora, quando eu não conseguia ser um com Deus, um completo. Minhas dores são dores que carrego como Jesus Cristo carregou na cruz.

Meus sofrimentos são lágrimas de tristeza de ver tantos seres normais, tateando no mundo como os cegos tateiam por desconhecerem a luz. Sofro pelas chibatadas que meu corpo físico não sente de fato, mas que minha alma reclama. A minha alma reclama as dores dos meus irmãos.