Alguém tem um emprego pra mim aí?

Ontem fui a uma entrevista de emprego. Havia enviado alguns currículos por email e eis que recebi uma ligação. A mulher que falava comigo se dizia encantada com o meu currículo, com as minhas referências e que havia ficado ainda mais impressionada com a minha desenvoltura para conversar. Eu senti-me nas nuvens, minha autoconfiança disparou. Foi uma sensação ótima. Conversamos por alguns minutos e enfim marcamos uma entrevista para o dia seguinte, às nove da manhã.

No dia seguinte (no caso, ontem) eu deixei as crianças na escola e fui me arrumar da melhor maneira possível, discreta, porém com aprumo. Documentos às mãos, meu esposo foi levar-me ao referido local da entrevista. Chegando lá, percebi que eu era a única que seria entrevistada naquele horário. Sentei-me no sofá que havia na recepção, a secretária serviu-me um café e disse-me que a “chefe” realmente estava impressionada comigo, só pela conversa ao telefone e disse que a contratação estava praticamente certa, era só questão de ajuste de horário e salário. Nossa! Aquilo pra mim foi máximo, era tudo que eu precisava, um emprego de meio período, com um salário “especulativamente” razoável e num ambiente agradabilíssimo.

Chegada a hora da esperada entrevista, a “chefe” chegou perto de mim e deu um sorriso, aparentemente de agrado pela minha aparência e chamou-me à sala dela. Começamos a conversar, ela perguntando sobre minhas experiências profissionais, pessoais, Hobbys, atividades, programa de TV favorito, livro favorito. E eu respondendo cada pergunta detalhadamente, respeitando os limites de uma conversa não tão íntima. Finalmente ela olhou-me e disse-me. Ok, o emprego é seu, passa lá no RH pra resolver o assunto da papelada e documentação e amanhã mesmo você já poderá começar. Meu coração disparou, levantei-me da cadeira, acenei com o rosto, quando ela me disse: - só uma última pergunta (a única que ela não havia feito), você pretende ter filhos logo? Eu olhei bem pra ela e disse: - eu já tenho três filhos e não terei mais nenhum. Simplesmente o sorriso desapareceu do rosto dela. Como mágica toda aquela simpatia transformou-se numa secura tamanha, que nem parecia a mesma mulher de segundos antes.

Eu fiquei meio sem jeito, sem saber o que eu havia dito de errado, quando ela disse que infelizmente eu não tinha mais o perfil adequado para a empresa, pois mulheres que tem filhos pequenos são muito emotivas, os filhos adoecem e a mãe tem que cuidar, levar ao médico, acaba não dormindo direito à noite e isso pode influenciar no rendimento do trabalho, etc, etc, etc. Disse que eu tinha primeiro que criar meus filhos e somente depois pensar em trabalhar fora e blá blá blá, blá blá blá...

Eu saí dali atônita, arrasada, incrédula mesmo do que acabara de acontecer. Absurdo maior eu não poderia ter ouvido, ainda mais de uma mulher, que pela aliança que usava, deveria ser casada. Será que não tem filhos, ou será que os filhos dela são diferentes, não dão trabalho, enfim, vim pra casa com vontade de chorar. Ela me dizendo pra criar os filhos antes de arrumar emprego. E enquanto isso eles morrem de fome? Lógico que esse não é o meu caso, pois meu esposo trabalha muito e consegue manter a casa muito bem. Mas e com quem a realidade é outra? E aquelas mulheres que são arrimo de família? Como fica? Ah, já sei, pedem socorro pro “Bolsa Família, “Vale Gás”, “Sacolão” e etc. Isso se o assistente social encarregado da avaliação não achar que ela não precisa.

E eu estou aqui, continuo desempregada, com a faculdade trancada, escrevendo pra vocês. Aliás, alguém aí me arruma um emprego?

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 11/02/2011
Reeditado em 11/02/2011
Código do texto: T2785674