DO SENTIMENTO DA INUTILIDADE; DA ONIPOTÊNCIA DO ACASO

O sentimento mais terrível de todos, o mais insuportável de viver é o da inutilidade dos fatos, do sofrimento, da Dor. A necessidade, que de terrível toca o abominável, de se precisar encarar a ausência de finalidade e de Finalidade, a presença e a certeza do Acaso no Ocaso de todas as coisas.

Entrar na vida das pessoas, mover-lhes os sentimentos, sentir-se alterado até a medula dos ossos pelos sentimentos por elas despertados. Sofrer o Inexplicável, morrer de Silêncio. Causar o mal sem jamais se ter pretendido isto; agonizar cotidianamente pelo mal a nós causado, mal inocente de si mesmo. Saber-se e saber outros seres presas de equívocos sem mais tempo nem direito algum a Esclarecimento.

Ir-se em direção ao inexorável Fim do tempo, sabendo-se desprezado, até mesmo odiado, sem remissão possível, sem tempo para resgate, sem ouvidos quaisquer até mesmo para um pedido de perdão. Saber-se julgado e condenado, irremediavelmente, sem nenhum direito a apelação: personagem kafkiano.

Saber desperdiçados os tesouros do próprio ser e os tesouros dos outros seres no interior deles próprios. O horror de ser-se eternamente acusado por tal crime, o de ter posto a perder todos esses tesouros, em si e nos outros. O horror supremo de não se poder ver o rosto do próprio crime, nem tampouco o rosto da própria inocência. O horror de ver a própria vida e a vida de seus parceiros-cúmplices passarem ao largo de si mesmas.

Saber irremediavelmente perdidas as Dádivas do Tempo Mágico. Perdidas, sem resgate à vista, ainda que no tempo mais longínquo, ainda que no tempo fora-do-tempo. As Dádivas do Tempo Mágico seguindo apenas em direção ao Esquecimento.

No fim da manhã de 11 de fevereiro de 2011.