ARTUR DA TAVOLA
Meu primeiro contato com o mestre Artur da Távola foi na minha vida um tanto quanto tardio. Tardio porque aconteceu já pelos meus 35 anos de idade. Considero tardio, pois eu gostaria mesmo de ter lido as crônicas de Artur da Távola na minha adolescência. Quando eu li o livro Mevitevendo (Ed. Salamandra -1977) eu confesso que fiquei encantado com o modo simples, direto, porém poético e recheado de observações profundamente humanas no “olhar” atento do mestre. E é mais que isso: é com uma “sintonia fina de natureza psicológica” de registrar os diversos tipos humanos é que as crônicas/poemas do mestre Artur aparecem em pleno destaque.
Mas quando eu lia Artur da Távola estranhamente as palavras saltavam de suas crônicas e me remetiam ao fundo a mim mesmo. Pois eu realmente me via nas páginas escritas, como quem se vê num espelho límpido e claro num dia de sol. Quando li a crônica “Dissonância Cognitiva” escrita por Artur da Távola percebi em mim com muito espanto, sentimentos que povoavam meu mundo íntimo devassados, explicitados, despidos mesmo. Permito-me agora fazer um rápido recorte do texto em questão, diz Artur da Távola : “Sofro porque não sei viver o que sei da vida. Não sei fazer o que sei como é. E sei fazer e sei saber o que tantos não sabem...”. E era exatamente assim que eu me sentia em muitos momentos, me percebia desta forma e estranhamente vivia. A crônica de Artur da Távola assim me tornava claras percepções e verdades que viviam em meu inconsciente como que depositadas em um baú num canto qualquer.
Mas é sobre os tímidos que o mestre revela de maneira acentuada a sua sensibilidade de observador atento da vida que pulsa em toda parte. Tímido que Artur reconhece também ser, e que também muitos o são, inclusive confesso: eu mesmo. Mas a timidez que é revelada por Artur da Távola e a sentida pelos verdadeiros tímidos nada tem do “senso comum”, da covardia, do medo, da inibição que muito experimentam. O tímido gosta do “palco” da vida , muito embora sua timidez. Gosta de gente, de desafios que inclusive confrontam sua timidez e que o tímido enfrenta de maneira tenaz.
Aproveito este instante para compartilhar um pequeno fragmento de texto de autoria de Artur da Távola, que tem como título “Ser Jovem”.
“Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.
É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigando depressa, mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.
É crer no que não vale à pena, mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha,
trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.
É sempre abrir a porta com emoção.
É abraçar esquinas,mundos, luzes, flores, livros, discos, cachorros e a menininha,
com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa,
dentes brancos e tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de ser"
Tive a oportunidade de gravar uma pequena autobiografia em áudio de Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, o nosso “Artur da Távola”, que até os dias hoje costumo ouvir com sentida admiração. Dados biográficos de Artur da Távola são fáceis de serem pesquisados na internet, já que sendo polivalente foi advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e político brasileiro.
Porém destaco, sem nenhuma novidade, o que o próprio mestre reconheceu e destacou em si mesmo na autobiografia que citei acima como sua principal característica: sua sensibilidade.
E me atrevo a complementar com o perdão do mestre: e quanta sensibilidade. Não tenho qualquer pretensão neste meu texto, a não ser de tão somente prestar uma pequena homenagem que senti necessidade de registrar em forma de texto e se possível chamar a atenção para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer este grande talento.
Seus livros de contos e crônicas estão por ai. Pena que o mestre não mais.
PAULO CESAR CUNHA
LICENCIADO EM HISTORIA.